Viagem sem volta a Marte
Mas talvez haja uma alternativa, uma missão que seja mais simples e mais barata e que viabilize a chegada do
homem a Marte.
Para isso, basta que seja uma viagem sem volta, ou seja, uma viagem para astronautas que aceitem o desafio
de ir para Marte sem qualquer plano de voltar à Terra.
Esta é a proposta de Dirk Schulze-Makuch, da Universidade do Estado de Washington, e do renomado Paul
Davies, da Universidade do Estado da Flórida, ambas nos Estados Unidos.
Eles acabam de delinear como seria uma missão sem volta a Marte em um artigo publicado na revista
científica Journal of Cosmology, chamado To Boldly Go: A One-Way Human Mission to Mars - Para
Audaciosamente ir: Uma Missão Humana sem Retorno a Marte, em tradução livre. O "audaciosamente indo
aonde nenhum homem jamais foi antes" é a marca registrada do seriado Jornada nas Estrelas.
Os dois físicos consideram que, embora tecnicamente factível, uma missão tripulada de ida e volta a Marte é
improvável num horizonte de tempo razoável - principalmente, segundo eles, porque seria um projeto
incrivelmente caro, tanto em termos financeiros quanto em sustentação política.
E, como a maior parte do gasto está ligado à necessidade de trazer os astronautas de volta em segurança
, uma missão só de ida poderia não apenas reduzir os custos a uma fração do projeto inicial, como também
marcar o início da colonização humana de longo prazo do planeta.
Uma missão só de ida a Marte seria o primeiro passo para o estabelecimento de uma presença humana permanente no planeta. [Imagem: NASA/JPL]
Colonização de Marte
Marte é o alvo mais promissor para uma colonização
humana porque ele é muito similar à Terra: possui uma
gravidade moderada, uma atmosfera, "água abundante",
dióxido de carbono e uma infinidade de outros minerais
essenciais.
É o segundo planeta mais próximo da Terra, depois de
Vênus, e uma viagem a Marte levaria apenas seis meses,
usando a opção de lançamento mais favorável e a atual
tecnologia dos foguetes químicos.
"Uma estratégia seria enviar inicialmente quatro
astronautas, dois em cada uma de duas espaçonaves,
ambas com módulo de pouso e com suprimentos
suficientes, para estabelecer um único posto avançado em Marte. Uma missão só de ida a Marte seria o
primeiro passo para o estabelecimento de uma presença humana permanente no planeta," explicou Schulze-
Makuch.
Embora afirmem que seria essencial que os astronautas fossem voluntários, Schulze-Makuch e Davies
ressaltam que não estão propondo que os pioneiros espaciais sejam simplesmente abandonados à própria
sorte em Marte - eles propõem uma série contínua de missões, suficientes para dar suporte à colonização de
longo prazo.
Rocha com um desenho que lembra um crânio humano, encontrada em Marte. [Imagem: NASA/J.P.Skipper/Eduardo Lucena]
Terráqueos marcianos
"Teria de fato muito pouca diferença dos primeiros
pioneiros brancos que foram para o continente norte-
americano, que deixaram a Europa com poucas
expectativas de retorno," diz Davies.
"Exploradores como Colombo, Frobisher, Scott e
Amundsen, embora não embarcassem em suas viagens
com a intenção de se fixar em seus destinos, de qualquer
forma assumiam riscos pessoais gigantescos para
explorar novas terras, sabendo que havia uma
probabilidade significativa de que poderiam morrer na
tentativa."
Embora proponham que os colonos espaciais comecem logo a cultivar e explorar os recursos do próprio
planeta, os cientistas afirmam que eles poderiam receber periodicamente suprimentos enviados da Terra.
E eles vão audaciosamente ainda mais longe: o posto avançado poderia se tornar autossuficiente e se tornar
uma base para um programa de colonização espacial ainda maior, de onde os "terráqueos marcianos", ou
mesmo terráqueos de nascença, poderiam partir para ir mais longe.
Áreas apontadas pelos pesquisadores como promissoras para a primeira colônia humana em Marte, por conterem cavernas e relevo capaz de funcionar como proteção para os colonos espaciais. [Imagem: Schulze-Makuch/Davies/NASA]
Seguro contra catástrofes
Os cientistas afirmam que o primeiro passo para a missão
sem volta seria a seleção de um local adequado para a
colônia, que preferencialmente tenha uma caverna ou
outro relevo que sirva de abrigo, assim como recursos
nas proximidades, como água, minerais e nutrientes para
agricultura.
Marte não tem uma camada de ozônio e nem uma
magnetosfera que proteja contra a ionização e os raios
ultravioleta. Por isso, uma caverna seria muito importante.
As cavernas marcianas também poderiam conter
depósitos de gelo em seu interior, embora isso ainda não
tenha sido comprovado.
O artigo sugere que, além de oferecer um "bote salva-
vidas" no caso de uma mega-catástrofe na Terra, uma
colônia em Marte seria uma plataforma inigualável para
pesquisas científicas. Os astrobiólogos acreditam que é grande a probabilidade de que Marte tem ou já teve
vida microbiana, e que seria uma oportunidade imperdível estudar uma forma de vida alienígena e um
segundo registro evolucionário.
Espírito explorador
Embora acreditem que a estratégia para colonizar Marte
com missões sem retorno coloque o projeto, financeira e
tecnologicamente, ao alcance das possibilidades atuais,
Schulze-Makuch e Davies afirmam que a ideia precisará
não apenas de um grande esforço de cooperação
internacional, mas também exigirá o retorno o espírito
explorador e doethos
de assumir riscos do período das grandes explorações na
Terra.
Segundo eles, ao levantar a ideia entre seus colegas
cientistas, vários deles manifestaram a intenção de se
inscreverem como voluntários para tal missão.
O próprio Schulze-Makuch afirma que seria o primeiro
voluntário a se inscrever no projeto - mesmo
reconhecendo o fato de que, quando tal missão estivesse
pronta para partir, ele certamente não teria mais idade
para embarcar.
"Pesquisas informais feitas após palestras e conferências
sobre a nossa proposta mostraram repetidamente que muitas pessoas gostariam de se voluntariar para uma
missão sem retorno, tanto por razões de curiosidade científica, quanto por um espírito de aventura e de
cumprir o destino da humanidade," afirmam eles.