Dois dias depois de Guido Mantega ter dito que o governo dispõe de "infinitas medidas" para segurar o câmbio, o Banco Central levou a mão ao tacape.
O BC impôs aos bancos o recolhimento compulsório de 60% sobre suas “posições cambiais vendidas” dos bancos.
Deu-se aos bancos um prazo de ajustamento de 90 dias. O compulsório vale a partir de abril. O dinheiro ficará retido no BC sem direito a remuneração.
Trocando em miúdos, o que o BC pretende é dificultar a entrada no Brasil do dólar especulativo que puxa a cotação do Real para o alto.
Numa explicação ultrasimplificada, a coisa funciona assim: por meio dos bancos, os investidores obtêm empréstimos no exterior.
Pagam taxas de juros internacionais, mais baixas. Depois, os dólares são trazidos para o Brasil.
Aqui, são direcionados para investimentos que pagam taxas de juros brasileiras, as mais generosas do planeta.
Esse tipo de operação inunda o mercado doméstico de dólares, eleva artificialmente a cotação do Real e envenena as exportações brasileiras, depromindo-as.
Para tentar deter a sobrevalorização do Real, o BC vê-se compelido a comprar dólares, engordando os especuladores e açulando-lhes o apetite.
Em 2010, com a barriga colada no balcão do câmbio, o BC comprou US$ 41,4 bilhões. Quase o dobro do que adquirira em 2009: US$ 34 bilhões.
Ao impor o compulsório de 60% aos bancos, o BC eleva o custo da “carteira vendida” das instituições.
Significa dizer: caçar dólares no exterior para depois vendê-los nos leilões do BC brasileiro passou a ser uma operação menos rentável.
Até aqui, o governo havia mirado o especulador estrangeiro. Elevara o IOF sobre os dólares trazidos de fora para pescar os juros da renda fixa.
Agora, o BC desce a borduna sobre os bancos brasileiros. Os primeiros efeitos da paulada foram moderados. Natural, já que o compulsório só vale a partir de abril.
Alexandre Tombini, o presidente do BC, definiu a bordoada como medida “prudencial”. Guido Mantega disse que o governo foi ao “cerne” do problema.
O tempo dirá até onde Brasília terá de levar as "infinitas medidas" que Mantega diz guardar em sua gaveta.