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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Beto Richa: deve-se ‘perdoar pecador, não o pecado’

  Folha
Uma das críticas mais recorrentes do tucanato a Lula é a de que o ex-presidente “passou a mão na cabeça de malfeitores”.

Pois bem. Liderança emergente do PSDB, o novo governador do Paraná, Beto Richa, parece ter sido inoculado pelo vírus do ‘deixa-pra-lá’.

Richa acaba de fazer duas nomeações controversas. Numa, acomodou Ezequias Moreira Rodrigues na cadeira de diretor da Cia. de Sanemento do Paraná.

Noutra, encaixou Nelson Cordeiro Justus numa das diretorias da estatal paranaense de Habitação.

Ezequias Rodrigues responde a a um par de processos (peculato e improbidade). Move-os o Ministério Público Estadual.

Nelson Justus encontra-se sob investigação do mesmo Ministério Público num caso que envolve a suspeita de improbidade administrativa.

Sobre as ações contra Ezequias, o grão-duque tucano declarou: “Ele reconheceu o erro e pagou a conta dele...”

“...Nesses casos, sempre me refiro a uma citação bíblica que fala de ‘perdoar o pecador e não o pecado’.”

Quanto ao inquérito que corre contra Nelson Justus, o governador tucano afirmou: “Fiquei sabendo pelos jornais que ele está sendo investigado...”

“...Não há nada comprovado contra ele, que também é um funcionário competente. Na minha administração, serei intransigente com a corrupção...”

“...Se houver algum indício de ilegalidade, irei apurar e os culpados serão punidos com a lei.”

Beto Richa não especificou de que trecho da Bíblia retirou o lero-lero segundo o qual deve-se “perdoar o pecador e não o pecado”.

Seja como for, trata-se de um tipo de conversa mole que, se tiver alguma serventia, será no confessionário. Despejada nos arredores das arcas públicas, soa como sacrilégio.

Às voltas com a denúncia por julgar e a suspeição por investigar, o governador alega que nenhuma das duas resultou, ainda, em condenação.

Verdade. Mas qualquer cidadão em dia com o fisco estadual poderá contra-argumentar: tampouco houve, por ora, declaração de inocência.

De resto, Richa deveria prestar mais atenção ao livro de Gêneses. Fosse Adão um subordinado do governador, a humanidade decerto ainda estaria no Paraíso.

Que crime, afinal, cometeu o primeiro homem? Roubou o fruto da árvore proibida. Uma reles fruta. A mãe, por assim dizer, de todos os trocos.

Se quiser emprestar às suas reflexões uma ossatura antropológica, Richa pode folhear um clássico: o "Sermão do Bom Ladrão", do padre Antônio Vieira.

Deus pôs Adão no paraíso, anotou Vieira, com poder sobre todos os viventes, como senhor absoluto de todas as coisas criadas. Exceção feita a uma árvore.

Eis que, com a cumplicidade da mulher, Adão provou do único fruto que não lhe pertencia. “E quem foi que pagou o furto?", pergunta Vieira.

Ninguém menos que Deus, materializado na pele de Jesus. Condenado à cruz, pregado entre ladrões, ofereceu um exemplo aos príncipes.

Um sinal, prossegue Vieira, de que são, também os príncipes, responsáveis pelo roubo praticado por seus subordinados.
Ao acomodar suspeitos em sua equipe, Richa como que atrai para si a suspeição. Se houver condenação, a coisa se complica.

Retorne-se, por oportuno, a Vieira. Diz o sábio padre que “são companheiros dos ladrões os que os dissimulam...”

“...São companheiros dos ladrões os que os consentem; são companheiros dos ladrões os que lhes dão postos e poderes...”

“...São companheiros dos ladrões os que os defendem; são companheiros dos ladrões os que hão de acompanhá-los ao inferno”.

Supondo-se que deseje melhor sorte para Richa, a direção do PSDB deveria chamá-lo para uma conversa. O diálogo poderia começar assim:

“Rezamos para que todo amigo acusado seja inocentado. Mas será que não há no Paraná nomes que, por imaculados, livrem o governador do risco de se tornar cúmplice?”