Presidente-executivo da mineradora Vale, Roger Agnelli abriu espaço em sua agenda para voar até Brasília no último final de semana.
No domingo (2), foi ao Palácio do Planalto. Prestigiou a posse do novo chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.
Agnelli queria ver e, sobretudo, ser visto na platéia que festejou aquele que é identificado como o mais poderoso ministro do novo governo.
Simultaneamente, fez coincidir com o início da Era Dilma Rousseff a veiculação de uma propaganda institucional (assista lá no alto).
Exibida nas principais emissoras de TV do país, a peça realça as “realizações” da Vale em 2010, último ano de Lula.
Na peça, a companhia realça suas contribuições à economia do país, à inclusão social, à preservação do meio ambiente e à inovação tecnológica.
Informa que fará em 2011 “o maior investimento da história da mineração”: R$ 43 bilhões. Algo que trará “mais divisas para o Brasil e progresso para o mundo”.
A movimentação de Agnelli e o esforço propagandístico da Vale se desenvolvem em meio a um forte cheiro de queimado.
Acalentada nos dois últimos anos do reinado de Lula, a ideia de destituir Agnelli do comando da mineradora foi ressuscitada na gestão Dilma.
Sob a vaga alegação de que a Vale não atende aos interesses estratégicos de Brasília, trama-se a troca de Agnelli por um gestor da confiança do Planalto.
Levada ao martelo no governo FHC, a Vale tornou-se uma empresa, por assim dizer, híbrida. Tomada pelo estatuto, é uma companhia privada.
Porém, mercê do arranjo societário feito para viabilizar sua privatização, a Vale ganha feições estatais quando vista pelo quadro de acionistas.
Reza o estatuto que a escolha do presidente da Vale depende da concordância de pelo menos 67% dos votos dos acionistas controladores.
Os operadores de Dilma, vinculados ao PT, foram à calculadora. Constararam: o governo dispõe de 60,51% dos votos de que precisa.
Desse total, 49% compõem o capital votante controlado por fundos de previdência de estatais. Entre eles: Previ (BB), Petros (Petrobras) e Funcef (CEF).
Outros 11,51% pertencem à Bndespar, braço operacional do BNDES. Para descer a lâmina, o governo precisa de mais 6,49%.
Planeja-se buscar a diferença numa negociação com o Bradesco, que controla 21,21% do capital votante da Vale.
Curiosamente, Agnelli é egresso do Bradesco. Entrou na casa bancária em 1981. Chegou a diretor-executivo. Em 2001, foi para a Vale.
Sob o comando de Agnelli, a ex-estatal mineradora tornou-se um portento multinacional. Opera em 38 países.
Considerando-se os empregados próprios e os das empresas que compõem a sua cadeia produtiva, a Vale provê salários a 115 mil pessoas.
Lidera a produção mundial de minério de ferro. É a segunda maior produtora de níquel do planeta.
A despeito do êxito, Agnelli foi à alça de mira de Lula em dezembro de 2008. O então presidente abespinhou-se com o anúncio de 1.300 demissões na Vale.
O país estava à época sob os efeitos da crise financeira global. Em telefonema a Agnelli, Lula se queixou.
Depois, fez críticas à empresa em solenidades públicas. Disse, por exemplo, que achava inconcebível que a Vale fosse mera exportadora de minério de ferro.
"Tem que vender produtos com valor agregado, fazendo o processo de transformação aqui dentro, gerando os empregos necessários", disse Lula.
Em setembro de 2009, Agnelli foi a Lula. Depois, anunciou investimentos de
US$ 12,9 bilhões em 2010. Serenaram-se os ânimos.
A julgar pela movimentação da equipe de Dilma, o armistício pode terminar. Na Vale, a presidência tem prazo de validade de dois anos.
Agnelli vem sendo sucessivamente reconduzido ao comando da companhia. A presidência atual expira em maio de 2011.