Fábio Pozzebom/ABr

Dilma Rousseff abriu uma janela de 30 minutos em sua agenda para receber o senador norte-americano John McCain.
Ex-candidato à Casa Branca, surrado por Barack Obama nas urnas de 2008, McCain foi a Dilma para fazer o lobby de uma indústria de seu país.
Defendeu os caças FA-18 Super Hornet. Fabricados pela Boeing, disputam uma vaga ao Sol na concorrência dos 36 caças que a FAB deseja adquirir.
McCain meteu-se numa incursão inglória. A Aeronáutica prefere os caças Gripen NG, da sueca Gripen.
O ministro Nelson Jobim (Defesa) e o ex-chefe Lula jamais esconderam o apreço pelos Rafale, da francesa Dassault –entre todos o mais caro.
Consultada antes da posse, Dilma avocou o tema para si. Equilibra-se entre a posição técnica da FAB e a argumentação político-administrativa de Jobim.
O ministro alega que não se trata de mera aquisição de aviões. Sustenta que o pacote francês inclui a transferência de tecnologia.
Depois da reunião com Dilma, McCain declarou que, de volta aos EUA, zelará para que seu país assuma compromisso semelhante:
"Há preocupação [do governo brasileiro] em relação à transferência de tecnologia. Eu pretendo voltar e fazer com que o presidente dos EUA e o Congresso...”
“...Deixem completamente claro que haverá transferência completa de tecnologia se o governo brasileiro decidir adquirir os nossos caças".
McCain foi ao Planalto acompanhado de outro senador Republicano, John Barrasso. Conversaram com Dilma sobre outros temas. Pré-sal, por exemplo.
Falaram também de direitos humanos. Perguntou-se a McCain se injetou o Irã na conversa. Ele preferiu deixar a resposta no ar. Porém...
Porém, evocou uma recente entrevista de Dilma ao diário Washington Post. Declarou-se satisfeito.
Ficou “feliz ao ouvir [...] que a presidente do Brasil não concorda com as políticas repressivas praticadas pelo Irã".
Associou-se ao interesse brasileiro noutra pauta: os biocombustíveis. Disse que é contra os subsídios americanos à produção de etanol extraído do milho.
McCain disse acreditar que os subsídios que prejudicam o combustível que o Brasil retira da cana cairão na Organização Mundial do Comércio.
Dilma disse a McCain que planeja visitar os EUA em março. Para ele, a relação entre Brasília e Washington “tem sido boa”. E pode melhorar.
“Como o Brasil emergiu como grande economia, vai cumprir um papel não só no hemisfério sul, mas no mundo”, fez média o senador.
Foi um enconro carregado de simbolismo. Tomados pela ideário, Dilma e McCain são como óleo e água. Não se misturam.
Observados pela biografia, têm muito em comum. No passado recente, une-os o câncer. O dela, linfático. O dele, de pele.
No passado remoto, une-os o calabouço e a tortura. Ela, presa por quase três anos, foi moída nos porões da ditadura brasileira.
Ele, ex-piloto da Marinha americana, foi abatido por uma bateria antiaérea no Vietnã. Passou cinco anos e meio numa solitária. Traz no corpo a memória da pancadaria.
Até hoje, o senador não consegue levantar os cotovelos acima dos ombros.
Separados pela ideologia, Dilma e McCain estão unidos, por último, no orgulho que nutrem por não ter revelado, sob suplícios, nenhum segredo fundamental.