Márcio Ribeiro/Folha
Chama-se abstenção o novo fantasma que assombra o presidenciável tucano José Serra.
O candidato receia que, no feriado prolongado que traz a urna de permeio, o eleitor prefira viajar a votar.
As pesquisas desfavoráveis tonificam o temor. Imagina-se que o eleitor de Serra, dando-o por derrotado, fique tentado a se abster de votar.
Vem daí que, num ato de campanha em Araraguara (SP), Serra dirigiu um apelo aos donos do voto.
Ao fazê-lo, acabou por admitir a realidade esbolada nas sondagens eleitorais:
"Peço aos brasileiros que não deixem de votar no próximo domingo. Ainda temos chances de virar esse jogo. Percam o feriado, mas ganhem um feliz Ano Novo".
O diabo é que a felicidade de Serra só será construída sobre os escombros da infelicidade da antagonista Dilma Rousseff.
E um pedaço do eleitorado, majoritário segundo as pesquisas, parece enxergar a gestão Lula como espécie de morada do júbilo.
No curso do discurso, Serra martelou a agressão que diz ter sofrido no Rio. Disse que não foi a primeira vez que militantes petistas o agrediram.
"No sábado passado sofri ameaças quando saía de uma missa no Ceará”, relatou.
“Uma tropa de choque organizada por um padre que é deputado estadual da Paraíba tentou me agredir e tive que sair escoltado pela polícia...”
“...O PT trata os opositores como inimigos a serem destruídos".
A última denúncia da revista Veja parece ter deixado Serra feliz. Não lera a notícia, mas sboreou-a mesmo assim:
"Não me surpreendo com esta denúncia, já que o uso da máquina do governo para atacar adversário é habitual. Eles são os profissionais da mentira e da violência".
Além de Serra, discursaram outros tucanos. Entre eles o atual governador de São Paulo, Alberto Goldman, que herdou a cadeira de Serra, em abril.
Goldman trazia veneno na língua. Chamou o PT de “nova Arena”. E, evocando a “agressão” sofrida por Serra, comparou Lula a Adolf Hitler.
"Na Alemanha, quando Hitler venceu as eleições e não tinha maioria no Parlamento, mandou queimar tudo e culpou a oposição...”
“...Foi depois disso que começou a ditadura nazista. O PT não quer ver crescer um país saudável".
Eleito no primeiro turno o sucessor de Goldman, Geraldo Alckmin também vergstou Lula. Afirmou que ele "zombou da lei e incitou a violência".
Misturando o desapreço ao desejo, Alckmin recordou que a arrogância do PT e de Lula puxaram Dilma para baixo, levando a eleição ao segundo turno.
No instante em que Alckmin passou adiante o microfone, escalou o palco um rapaz que se identificou como Natan.
"Trabalho numa escola estadual e não sou ligado a nenhum partido”, disse ele.
“Só gostaria de entregar o meu protesto quanto à má qualidade do ensino e como os profissionais da área são tratados".
Sob vaias da platéia, Natan foi retirado da arena pelos seguranças a serviço do PSDB.
Se ainda não era eleitor do PT, o intruso decerto passou a considerar que a felicidade se chama Dilma.
O senador eleitor Aloyzio Nunes (PSDB-SP) cavalgou a cena: "Passaria pela cabeça de algum de nós invadir a casa deste rapaz assim? Essa não é nossa política...”
“...O PT troca argumentos por porrada e se transforma numa tropa de choque fascista".
Os argumentos do novo senador ganhariam consistência se, no caso de Natan, o visitante incômodo, o PSDB tivesse preferido os argumentos à segurança.