Pesquisar este blog

Total de visualizações de página

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Lula chora, fala em 'dedo de Deus' e que poderia ser pastor


 

comentários
455
Lula chora ao ouvir poesia em sua homenagem e abraça o governador de Pernambuco. Foto: Ricardo Matsukawa/Terra
Lula chora ao ouvir poesia em sua homenagem e abraça o governador de Pernambuco
Foto: Ricardo Matsukawa/Terra

CELSO CALHEIROS
VAGNER MAGALHÃES
Direto do Recife
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chorou e afirmou que sua trajetória é "coisa de Deus" durante a "festa da despedida" organizada pelo governo de Pernambuco, no Marco Zero do Recife, nesta terça-feira. "Não é normal um retirante sair fugido da fome de Caetés, se tornar presidente da República. Isso tem dedo de Deus", disse, em seu último evento no Estado. Em tom de brincadeira, o presidente disse que poderá se tornar pastor quando deixar o cargo. "Imagina eu fazendo um sermão em Garanhuns", afirmou.
Antes de Lula pegar o microfone, repentistas rimaram palavras planejando uma eventual volta de Lula ao cargo. Um deles sugeriu que a partir de 1º de janeiro o presidente está apenas saindo de férias. "Passa quatro anos fora e depois ele vem". Outro também sugeriu o retorno. "Ele voltará de novo, quem sabe futuramente". O mesmo repente lembrou que "com nove dedos nas mãos ele superou quem tinha dez".
Enquanto se deliciava com os versos, o presidente não conseguiu segurar o choro em pelo menos dois momentos. "Não quero chorar mais do que eu chorei. Político não sabe chorar. Enquanto o povo chora para fora, cafunga, o político chora para dentro, tem vergonha", afirmou. Ao ser recebido com uma declamação do poeta Antônio Marinho, com o bordão "Pernambuco agradece o presidente", Lula se emocionou e foi abraçado pelo governador Eduardo Campos (PSB).
De Campos, Lula recebeu a comenda - uma faixa nas cores de Pernambuco - da ordem dos méritos dos Guararapes, a maior do Estado. Lula agradeceu a distinção e em seguida garantiu que dormiria com ela. "Vou ter de entregar a minha no sábado e fico muito feliz com esta", disse.
Obras do governo
A uma multidão de 15 mil pessoas, Lula falou de obras do governo federal no Nordeste e lembrou da transposição do rio São Francisco com ironia. "Aqueles que tomam Perrier gelada, que me permitam levar água tratada ao povo brasileiro".

Ao falar da BR-101, foi longe. "Nem na Alemanha eles têm estradas com tamanha qualidade. Hoje o povo nordestino está mais feliz". Ao lembrar das eleições passadas, quando foi derrotado por três vezes consecutivas, Lula lembrou de uma passagem de 1989 quando ele disse ter entrado em um barraco humilde e ouviu de sua moradora que não teria o voto dela porque ele tomaria tudo o que era dela. "Eu pensava comigo: 'ela não tem nada e dizia que tinha medo de mim'. Como isso era possível?"
O evento desta noite serviu para anunciar o início das obras do centro cultural Cais do Sertão Luiz Gonzaga e a cessão de terreno da União para a Associação Criança Cidadã Meninos do Coque. O centro cultural representará um investimento de R$ 26 milhões com a criação de um museu de alta tecnologia e um memorial a Gonzagão. O local possibilitará cursos de danças, de música, estúdios, bibliotecas e midiateca. A associação recebeu um terreno de 14 mil m² no bairro da Cabanga para construção de salas de concerto.
Antes de deixar o palanque, Lula deixou um recado para os tempos que virão. "A palavra de ordem é apoiar a companheira Dilma. Ela será parceira de Pernambuco. Quanto a mim, estarei pelas ruas deste País", disse. O presidente ainda viaja para Fortaleza (CE) e para Salvador (BA) antes de retornar a Brasília.
Homenagens do povo
Pouco antes do presidente discursar, a administradora Gisely dos Santos, 30 anos, estendia um banner com fotos de sua formatura. Entre elas, uma de Lula, com um chapéu de vaqueiro.

"Todas as vezes que Lula vem a Pernambuco - foram 40 nos dois mandatos - eu choro e me arrepio. Ela disse que conseguiu acesso a uma universidade particular por meio do Programa Universidade Para Todos (Prouni), do governo federal. "Se não fosse assim, jamais teria conseguido me formar", disse, ao agradecer a oportunidade.
No palco, também se apresentaram a dupla de repentistas Valdir Perez e João Paraibano - que tirou sorrisos com as rimas singelas e entonação nordestina carregada -, e o cantor Maciel Melo, que puxou aplausos da plateia ao final do seu número: "No futebol, Pelé; nas artes plásticas, Cândido Portinari; e na política, Luiz Inácio Lula da Silva".