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O PT planeja reunir o seu diretório nacional em 10 de fevereiro, dia do aniversário de 31 anos da legenda.
Pretende realizar, em Brasília, um debate sobre a conjuntura. Mais: deseja aprovar uma resolução.
No texto, serão fixadas as linhas básicas do discurso a ser adotado pelo partido neste alvorecer da gestão Dilma Rousseff.
Há um quê de ineditismo no gesto. Nunca antes na história do PT realizou-se uma reunião de cúpula sem que Lula frequentasse a cena no papel de protagonista.
Atomizado numa miríade tendências, o PT sempre se pretendeu um partido de muitos miolos. Mas, na hora de decidir, subordinava-se a uma única cabeça, a de Lula.
Agora, a legenda enfrenta o desafio de construir o discurso do pós-Lula. Uma plataforma que regulará suas relações com uma cristã nova.
Egressa do PDT, Dilma não carrega na biografia um histórico que lhe permita impor ao PT a mesma subserviência que Lula inspirava.
No mesmo dia em que redigirá a nova resolução, o PT promoverá em Brasília uma grande festa de aniversário.
Os mandachuvas da legenda cercam-se de dois cuidados. Primeiro, zelam para que Dilma e Lula dividam os holofotes.
Ela será festejada como a primeira mulher a chegar à Presidência. Ele terá restituído o título de presidente de honra do PT.
Em segundo lugar, os dirigentes da legenda tentam evitar que, em meio à pompa do aniversário, o diretório petista tropece nas circunstâncias.
Trabalha-se com a perspectiva de que o discurso do partido não precisa coincidir 100% com as prioridades do novo governo. Porém...
Porém, vai-se tentar conduzir os membros do diretório para um texto que não seja guindado às manchetes como a antítese de Dilma.
Entre os temas que constarão da peça estão, por exemplo, as políticas econômica, externa, social e de direitos humanos.
Serão abordadas também os vínculos de aliança com os outros partidos e a participação do PT no governo. As chances de pipocarem ruídos são grandes.
Antes do final do ano, provavelmente em agosto, o PT promoverá mais um de seus Congressos Nacionais. De novo, terá de se posicionar sob -e sobre- Dilma.
Afora o convívio com o PT, Dilma vê-se compelida a lidar com o fantasma de Lula. Ele nem desencarnou e já retorna à liça partidária, na condição de chefe de honra.
Lula pode ajudar. Ou não. Ajudará se tiver a paciência de fazer por Dilma o que fazia por si mesmo, livrando-a das inconveniências da legenda.
Prejudicará se, com sua militância partidária, tomar iniciativas que se sobreponham aos movimentos do governo.
Ainda no Planalto, Lula dissera, em entrevista: livre da azáfama presidencial, coordenaria uma frente de partidos para arrancar do Congresso reformas essenciais.
No comando de uma ONG a ser instalada em São Paulo, o ex-soberano pretende dar ossatura a tais projetos.
Entre eles a reforma política e a tributária. Coisas que, em dois reinados, não logrou implementar.
Há dois dias, em reunião com os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Antonio Palocci (Casa Civil), Dilma encomendou a ressurreição da proposta tributária.
É de perguntar: Lula e Dilma guerrearão juntos ou cada um defenderá seus próprios projetos? Ou, por outra: Conseguirá Lula resistir às tentações de 2014?