SÃO PAULO (Reuters) - O Partido Verde está valorizando o passe e atraindo as atenções do mundo político desde que Marina Silva recebeu quase 20 milhões de votos no domingo. A decisão sobre a entrega desse patrimônio político entre os dois candidatos que disputarão o segundo turno será anunciada dia 17.
Presidente nacional da sigla, há 11 anos, José Luiz Penna defende que o partido não se exima de tomar uma posição na convenção que decidirá o caminho da legenda no segundo turno, apenas 15 dias antes da eleição de 31 de outubro.
Ele é contrário à neutralidade da sigla e diz que vai lutar pela tomada de posição entre os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).
"Eu acho que a coisa mais difícil para o nível de representação que o partido teve nas urnas é essa coisa de abrir o voto", disse Penna à Reuters. "Se o partido tivesse menor expressão era mais fácil isso. Vou trabalhar contra", completou, admitindo que acatará a decisão da convenção.
Marina Silva, que ainda não anunciou posição, sinaliza exatamente por ficar neutra, em postura antagônica à de Penna. Seria uma forma de ela se preservar depois de ter afirmado sistematicamente na campanha que Dilma e Serra eram muito parecidos.
Marina e Penna não andam tão próximos. Na comemoração do primeiro turno, realizada no domingo à noite em torno da senadora, ele esteve ausente em meio a coordenadores da campanha e integrantes da legenda. A justificativa é que estava dando entrevista a uma emissora de TV.
Penna, vereador pelo município de São Paulo e deputado federal eleito, tem ligações com o PSDB paulista, mas não admite que defenda o apoio a Serra.
"Pelo cargo que tenho no partido é absolutamente impossível eu ter posição a priori, eu sou um porta-voz, trabalho o consenso. O que não quer dizer que dentro de uma reunião do partido eu não vá lutar por uma posição", afirmou, chamando de insidiosas as especulações.
Três dias após a realização do primeiro turno, o dirigente diz que não foi procurado por interlocutores nem do PT nem do PSDB, reconhecendo que o assédio é direto com Marina.
Não é para menos. A votação de Marina foi muito mais expressiva do que a obtida pelo partido.
Tomando a bancada eleita na Câmara dos Deputados como uma das medidas para o tamanho de uma sigla, o PV mudou pouco de 2006 para agora. Há quatro anos, foram eleitos 13 deputados federais verdes, frente a 15 neste ano. Para se ter uma ideia, o PT, de Dilma, elegeu 88 deputados e o PSDB, de Serra, conseguiu 53 cadeiras na Câmara no último domingo.
A senadora Marina Silva foi filiada ao PT por 24 anos, deixou a legenda no ano passado, migrou para o PV e em seguida anunciou a candidatura à Presidência.
Penna conta que foi o partido que procurava uma candidata tendo Marina no horizonte. "Nós estávamos deliberados a ter candidatura própria. O máximo desse sonho era Marina topar e ela topou. Estamos colhendo os frutos de uma análise política correta", declarou.
O partido vai apresentar uma lista de propostas aos candidatos, não apenas sobre meio ambiente, mas também sobre temas como segurança e educação.
Questões como ampliação de usinas nucleares, construção de usinas hidrelétricas como a polêmica Belo Monte e transposição do rio São Francisco, defendidos pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, são focos de atrito com o PV, que, de acordo com assessores da sigla, afastariam o partido de Dilma.
Se em São Paulo e Rio de Janeiro, para citar dois casos, o PV é ligado ao PSDB e ao DEM, no plano federal o partido faz parte da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso. No governo Lula, o cantor e compositor Gilberto Gil, filiado ao PV, ocupou a pasta da Cultura. Seu sucessor, Juca Ferreira, se licenciou da sigla e apoiou Dilma.
O PV concorreu à Presidência em duas outras ocasiões, com Fernando Gabeira, em 1989, e Alfredo Sirkis, em 1998, que nem de longe chegaram à votação de Marina.