Num instante em que a ONU concentrava-se no debate às sanções contra o Irã, uma ação militar de Israel mostrou que há mais bandidos do que mocinhos no mundo.
Forças militares israelenses atacaram navios que levavam ajuda humanitária à Faixa de Gaza, que se encontra sob bloqueio de Isarel.
Morreram pelo menos dez ativistas. Produziram-se 30 feridos. O Conselho de Segurança da ONU convocou reunião de emergência.
Exige “explicações”. Fala em abrir uma “investigação”. Sanções? Por ora, nada.
O Brasil, que até aqui metia a colher no conflito do Oriente Médio sem ser chamado, ganhou um motivo real para se imiscuir no tema.
Organizada pela ONG Free Gaza, a frota humanitária, composta de seis embarcações, levava 750 pessoas. Entre elas uma cineasta brasileira, Iara Lee.
O governo brasileiro emitiu nota condenando o ataque. O Itamaraty chamou o embaixador de Israel em Brasília para expressar sua "indignação".
E o chanceler Celso Amorim, agora sem contestações, subiu o tom: "É um ato muito grave...”
“...Estamos preocupados com isso, esperamos que a ONU adote alguma ação, e que Israel possa atender ao que for solicitado".
Amorim orientou a representante brasileira na ONU a apoiar convocação do Conselho de Segurança. “Espero que o presidente do Conselho dê uma declaração forte".
Os EUA, que, no caso do Irã, rugem como leão, miaram para Israel. Barack Obama telefonou para o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu.
Alcançou-o no Canadá, onde se encontra. Segundo a Casa Branca, os dois falaram por 15 minutos. O que disse Obama?
Diz a assessoria que o presidente norte-americano pediu uma "investigação". E expressou sua compreensão quanto à decisão de Netanyahu de retornar imediatamente a Israel.
Antes do ataque, os dois haviam agendado um encontro, em Washington. Será remarcado, disse a Casa Branca, para a “primeira oportunidade”.
No mais, informou-se que Obama “lamenta profundamente” as mortes ocorridas no “incidente”. E expressa sua “preocupação” com os feridos.
Sanções contra Israel? Nenhuma palavra, por enquanto. A secretária de Estado Hillary Clinton, senhora da retaliação contra o Irã, guarda obsequioso silêncio.
Ouvido, Netanyahu disse "lamentar" as mortes. Mas defendeu enfaticamente a ação de seus soldados. Disse que atacaram para se defender.
Se defender do quê? Não se sabe. Os navios não levavavam armamentos. Transportavam comida, roupas, material de construção...
A despeito das evidências em contrário, Israel classifica os ativistas que levavam ajuda a Gaza de "terroristas". Algo que a ONG promotora da frota humanitária classificou de "ultrajante".
O Irã é fustigado por representar uma ameaça nuclear. Israel é poupado depois de ter praticado um ato que bem pode ser classificado como terrorismo de Estado.
É de perguntar: o que estaria ocorrendo agora se o Irã houvesse disparado contra navios apinhados de carga humanitária em águas internacionais?








