De passagem por Pernambuco, José Serra deu entrevista à Rádio Jornal. A certa altura, o candidato tucano cantarolou “Fim de Caso”, de Dolores Duran:
“Eu desconfio que o nosso caso está na hora de acabar/Há um adeus em cada gesto, em cada olhar...”
Um incauto que estivesse ouvindo a entrevista poderia supor que Serra iria, finalmente, pôr um ponto final no seu caso com Lula. Porém...
Porém, no curso da entrevista, deu-se o inverso. O “oposicionista” Serra acarinhou Lula. Prometeu dar continuidade às obras e programas do atual governo.
Recordou-se a Serra que a popularidade de Lula, alta em todo país, é ainda maior em Pernambuco, Estado que em que ele despejou verbas federais.
Mencionou-se ao candidato uma obviedade: Lula e a candidata dele, Dilma Rousseff, vão levar essas obras ao palanque. O que fazer?
E Serra: “Olha, acho que a popularidade do Lula é merecida aqui. Só que o Lula não é candidato. [...] O Brasil tem que olhar para o futuro”.
Disse que “Pernambuco pode muito mais”. Segundo ele, gastaram-se apenas 7% das verbas federais destinadas ao Estado.
“De cada R$ 15 que tinha pra gastar, gastou R$ 1. O que eu vou fazer? Vou tocar isso aí pra frente”.
Comprometeu-se a “tocar” o aeroporto de Guararapes, a Transnordestina, a duplicação da BR 101, a Transposição do Rio São Francisco...
“Você tem que pegar as coisas e fazer acontecer. Tem obra pra burro, tocada de um lado pro outro...”
“Grande parte no começo, no meio do caminho ou algumas mais pro final. Isso a gente vai fazer tudo”. Repetiu que vai manter e ampliar o Bolsa Família.
Refutou a fama de antinordestino. “Sabe de onde vem isso? De político, pra catar voto”. Exagerou:
“Vou dizer, sem qualquer papo: individualmente, de fora do Nordeste, eu talvez tenha sido quem, na vida pública mais fez por aqui”.
Citou o Fundo de Desenvolvimento do Norte, Nordeste e Centro Oeste, que relatou na Constituinte.
Mencionou o Prodetur (Programa de Turismo), “que nós botamos pra andar”, em 1995, no Ministério do Planejamento, sob FHC. Invocou um tal de Pro-água.
Disse que, como ministro da Saúde, deu impulso ao Programa de Saúde da Família. Trazia números no bolso do colete:
“Quando eu entrei, tinha 97 equipes em Pernambuco. Quando saí, deixei 1.158. Esse programa foi feito praticamente na minha gestão”.
Desafiou os entrevistadores a vasculharem seus pronunciamentos no Congresso, para ver se encontram “uma vírgula” que tenha pronunciado contra o Nordeste.
Lero vai, lero vem, perguntou-se a Serra o que acha do estaleiro que, sob Lula, foi implantado em Pernambuco.
Disse o repórter: “Começou a fazer navios aqui, coisa que não acontecia no governo do Fernando Henrique Cardoso”.
E Serra: “Os estaleiros, na época, estavam todos quebrados, principalmente no Rio de Janeiro. [...] De alguma maneira, foi feito um saneamento em todo o setor...”
“...Por outro lado, a Petrobras tá crescendo mais agora, porque descobriu o pré-sal. E o pré-sal já vinha de pesquisas e investimentos no governo anterior...”
“...As coisas não acontecem da noite pro dia. Então, quando tem demanda se justifica. Você tem uma demanda tão grande que agora que vale a pena...”
Alisou Lula: “Eu me congratulo com Pernambuco, porque foi o primeiro estaleiro a funcionar. O governo federal está de parabéns...”
“...Deu incentivos, a Petrobras fez a encomenda. É uma coisa muito boa. E vai continuar pra frente. Acho que Brasil precisa investir”.
Serra foi instado a falar sobre drogas: o Fernando Henrique tem dado alguns depoimentos favoráveis à “liberação da maconha”, ele ouviu.
Sem titubeios, o candidato tucano se contrapôs à pregação de FHC em favor da descriminalização das drogas:
“Eu sou contra liberar maconha ou qualquer coisa. Acho que a droga, hoje, é uma das bases do crime organizado no Brasil”.
Já fumou maconha? “Não, porque não fumo. Pra mim, mesmo quando me ofereciam, colocar fumaça no pulmão é um escândalo. Começo a tossir, dá náusea, etc. Foi uma sorte fisiológica. Com isso, não fumei cigarro também”.
Antes, perguntara-se a Serra o que achou de o “ministro da Saúde [José Gomes Temporão] mandar o povo trepar pra curar hipertensão”. Ele riu. E emendou: “Você sabe que eu não sou médico, né? Eu entrei na Saúde e não sei dar injeção. Montei uma equipe. O Temporão deu a receita dele. Como eu não tenho hipertensão, eu não me senti afetado. É melhor você ver com o Temporão. Se não vou exercer a profissão ilegalmente aqui”.
Quem ouviu Serra ficou com a impressão de que, mais Lula que a própria Dilma Rousseff, o grão-tucano converteu-se numa espécie de anti-Dolores.
Se depender de Serra, seu caso com Lula está ainda na fase do “carinho apaixonado”. Parece mais propenso a “fazer versos”, a “viver sempre abraçado, naquela base do só vou se você for”. Nem desconfia que “o caso está na hora de acabar”.








