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quinta-feira, 1 de julho de 2010

Articulação de Lula minou chapa idealizada por Serra

Lula Marques/Folha
                                       Sob desatenção de Guerra e Maia, nas pontas, Serra 'celebra' Índio, 'seu' vice 

Em articulação subterrânea, Lula imprimiu suas digitais na crise que levou à desmontagem da chapa puro-sangue do PSDB.

O presidente telefonou na terça-feira (29) para o senador Osmar Dias (PDT-PR). Fez um apelo para que ele retomasse o projeto de disputar o governo do Paraná.

Osmar é irmão de Álvaro Dias (PSDB-PR), o senador que o presidenciável tucano José Serra escolhera para seu vice.

Antes do telefonema de Lula, Osmar rumava para a disputa ao Senado. Concorreria à reeleição na chapa de Beto Richa, candidato tucano ao governo paranaense.

Lula cuidou de recordar a Osmar que, há mais de um ano, empenha-se para fazer dele seu candidato no Paraná, com o apoio do PT e do PMDB.

A ligação de Lula deixou Osmar balançado. Acionado pelo Planalto, o ministro Carlos Lupi (Trabalho), mandachuva do PDT foi ao senador.

Ao final da conversa com Lupi, Osmar já era, de novo, candidato a governador, não mais a senador. A notícia ganhou a velocidade de um raio.

Foi alardeada, via micro-blog, pelo ministro Alexandre Padilha, coordenador político de Lula. Ganhou as manchetes no Paraná. E se espalhou pela web.

Logo chegaria à casa do senador ‘demo’ Heráclito Fortes (PI), onde o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), reunia-se com congressistas da legenda.

Interlocutor habitual de Osmar Dias, Rodrigo alertara ao senador que o DEM não engoliria a seco a acomodação de Álvaro Dias na vice de Serra.

O próprio Álvaro relatara ao irmão, na noite de terça, que a barricada erguida pelo DEM fizera sua indicação subir no telhado.

Osmar, que a meses protagonizava um vaivém entre Serra e Dilma, sentiu-se como que liberado para se render aos apelos de Lula.

Com seu gesto, ofereceu ao DEM o derradeiro argumento para encostar Serra contra a parede.        

Virara pó a principal alegação de Serra –a de que a opção por Álvaro atrairia Osmar e dinamitaria o palanque paranaense de Dilma.

Lula foi dormir, na noite de terça, celebrando dois feitos: ressuscitara a candidatura governamental de Osmar e ajudara a envenenar as relações de Serra com o DEM.

Noctívago contumaz, Serra ganhou uma razão adicional para manter-se acordado na madrugada de quarta (30).

Surpreendido pelo recuo de Osmar, o candidato tucano convenceu-se, a contragosto, de que a meia-volta tornara-se inevitável.

Já decidido a lançar Álvaro Dias ao mar, Serra ensaiou um recuo parcial. Cogitou substituí-lo por uma opção tucana: o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).

Parecia dar de ombros para um relato que ouvira de Fernando Henrique Cardoso, que passara a tarde recolhendo, a portas fechadas, as queixas da cúpula 'demo'.

Estava em jogo a aliança com o DEM e, sobretudo, os três minutos de propaganda televisiva que a legenda agrega à campanha tucana.

Convocado, Rodrigo Maia, o presidente do DEM, voou de Brasília para São Paulo ainda de madrugada.

Convidado, o grão-tucano Aécio Neves, que mantém com Rodrigo relações para lá de amistosas, tomou o avião em Belo Horizonte.

Antes da chegada da dupla, Serra ouviu de Jorge Bornhausen, presidente de honra do DEM, um nome que não lhe passara pela cabeça: Índio da Costa (DEM-RJ).

Rodrigo e Aécio reuniram-se com Serra e com o prefeito 'demo' de São Paulo, Gilberto Kassab, principal elo do candidato tucano com o DEM.

Rodrigo trazia de Brasília três nomes: o do deputado José Carlos Aleluia, que anunciara horas antes a decisão de concorrer ao Senado pelo DEM da Bahia...

...o do deputado Carlos Melles (DEM-BA), suplente de senador na chapa de Aécio; e o de Valério Pires Franco, estrela do DEM do Pará.

Serra já estava, porém, fixado em Índio da Costa, o nome que Bornhausen lhe sugerira. Encantara-se com o fato de o deputado ter relatado  projeto da Ficha Limpa.

Aécio achou bom. Rodrigo não tinha razões para se opor. Índio ingressara na política pelas mãos de seu pai, o ex-prefeito carioca Cesar Maia.

No final da tarde de quarta, ao sair de um encontro com formandos de medicina bancados pelo Prouni, Lula foi instado a comentar a escolha do novo vice de Serra.

Ao ouvir dos repórteres o nome de Índio da Costa, que o DEM acabara de aclamar em convenção, o presidente indagou, com ar de pouco caso: “De onde ele é?”

Informado de que o deputado fora eleito pelo Rio, Lula saiu sem dizer palavra sobre o vice que ajudou a acomodar na chapa de Serra, o rival de sua pupila