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sábado, 18 de setembro de 2010

Dilma escapa do Erenicegate à moda Lula: Não sabia

  Jorge Araújo/FolhaDe passagem por Campinas (SP), Dilma Rousseff teve bons e e maus momentos. No pedaço benfazejo da agenda, encontrou-se com o ator Benício Del Toro (foto) e escalou o palanque ao lado de Lula.

Na parte desagradável, foi, por assim dizer, açoitada por questões relacionadas ao noticiário sobre o tráfico de influência na Casa Civil.

Dilma lidou com o tema à maneira de Lula. Disse que não sabia. Enfeitou o bordão: "Não cheguei a tomar conhecimento”. Criticou os jornais por darem crédito às palavras de Rubnei Quícoli, um lobista que tentou cavar negócios no governo.

“Acho estarrecedor que se dê credibilidade a uma pessoa com aquele currículo", disse. De fato, Rubnei não tem propriamente um currículo, mas uma ficha corrida. Carrega nos ombros duas condenações. Já puxou dez meses de cana.

A despeito desse histórico, achegou-se a Israel Guerra, filho da recém demitida Erenice Guerra. Pior: Rubnei, “uma pessoa com aquele currículo”, foi recebido na Casa Civil em novembro de 2009, época em que Dilma era ministra.

Na pele de candidata, Dilma toma distância de Israel Guerra: "Não tinha nenhum filho da Erenice na Casa Civil. O que tinha lá eram amigos dele. Se esses amigos cometeram algum delito, lamento a indicação deles, lamento profundamente".

Chama-se Vinícius de Oliveira Castro um dos “amigos” que Israel convenceu a mão, Erenice, a alojar na ex-pasta de Dilma. Parceiro de traficâncias do filho de Erenice, Vinícius foi exonerado no início da semana.

Em sua última edição, ‘Veja’ associa o personagem ao recebimento de propina de R$ 200 mil. Dinheiro vivo, manuseado na Casa Civil. Segundo a revista, a grana brotou de uma operação de compra do medicamento Tamiflu, usado no combate à gripe suína. Negócio de R$ 34,7 milhões.

Responsável pela aquisição, o Ministério da Saúde negou que a compra do lote de Tamiflu tenha sido tisnada pelo malfeito. Dilma disse que é preciso investigar. Havendo culpados, que sejam punidos com rigor.

Na propaganda eleitoral, Dilma é vendida como superministra. Por vezes, tem-se a impressão de que mandava mais do que o próprio Lula. O marketing fez da candidata uma espécie de coordenadora-geral da República.

Uma mulher assim, genial, mãe de todas as gestoras, não condiz com a Dilma cega da Casa Civil. A platéia fica autorizada a se dividir em dois grupos. Num, os que vêem em Dilma uma cínica. Noutro, os que enxergam nela uma banana, incapaz de refrear o ilícito.

Em nenhum dos dois casos Dilma é a utopia que 74 milhões de eleitores se dispõem a eleger a próxima presidente da República.

José Serra, o principal antagonista de Dilma, tenta, por ora sem sucesso, tirar proveito eleitoral do episódio. Também neste sábado, comentou o suposto pagamento de propina na aquisição de medicamento. Acomodou a encrenca sob os pés de Dilma:

"A gente sabe que um esquema como este não é um esquema que se criou a partir de abril. É coisa que vem há muito tempo." Soou como se enxergasse no novo escândalo potencial maior do que via no ‘Fiscogate’:

"Muita gente no Brasil não entendeu o que é quebra de sigilo, embora seja grave. Mas todo mundo entende e sabe o que é corrupção e o que é propina". Mirou em Dilma:

"Se sabia, é crime. Se não sabia, não é uma boa administradora. [...] Anos e anos com um esquema feito ao lado do gabinete, de distribuição de propina até para a compra de remédios, o que é especialmente mórbido, não dá".

O eleitor mais atento talvez não veja em Serra autoridade para fustigar Dilma. À época em que era ministro da Saúde, o tucano viveu experiência análoga. Congressistas penduraram no Orçamento da União verbas para a aquisição de ambulâncias.

Descobriu-se que fatia generosa do dinheiro era desviada por uma máfia. Serra chegou a ser filmado, em Mato Grosso, numa cerimônia de entrega de ambulâncias superfaturadas.

O "quanto eu levo nisso?" é um defeito congênito de Brasília. Nascida de um canteiro de obras lamacento, a cidade não poderia ter dado em outra coisa. Desde o início, era um lugar propício aos movimentos pesados, um espaço talhado para o trânsito de tratores e outros azares.

Dilma e Serra vendem a ilusão de que, eleitos, presidirão o governo. Rodeados de pemedebês e petebês, o mais provável é que sejam presididos.