Na bica do encontro do eleitor com as urnas, o comitê de Dilma Rousseff deflagrou uma cruzada religiosa.
Trata-se de uma reação contra movimento que, iniciado na internet, ecoou nos templos. Atribuiu-se a Dilma uma frase que ela jura não ter pronunciado.
A Dilma do boato teria misturado o filho de Deus num comentário sobre pesquisas eleitorais. Teria dito que “nem Jesus Cristo” lhe tiraria a vitória.
Difundida por e-mail, a frase chegou aos templos. Alguns pastores e padres passaram a desaconselhar aos fieis o voto em Dilma.
Contra o veneno, a campanha de Dilma levou à TV, nesta quarta (29), o antídoto Lula. Em mensagem gravada na véspera, o cabo eleitoral compara-se à pupila:
"[...] Estou vendo acontecer com a Dilma o que aconteceu comigo no passado, quando pessoas saíram do submundo da política mentindo a meu respeito, dizendo que iria fechar as igrejas, mudar a cor da bandeira..."
"...Ganhei as eleições e o que aconteceu? Mais liberdade religiosa, mais respeito à vida, mais democracia, mais comida na mesa, melhor salário. Isso foi o que eu fiz pelo Brasil. E é isso que Dilma vai continuar fazendo. Por isso, vote Dilma".
Mais cedo, o autoproclamado bispo Edir Macedo, mandachuva da igreja Universal, havia pendurado em seu blog uma nota de socorro.
“Dilma é vitima de mentiras espalhadas pela internet”, escreveu Macedo no título. No texto, negou a frase atribuída a Dilma. Atribuiu a coisa ao Tinhoso:
"Quem pensa que está prestando algum serviço ao Reino de Deus, espalhando uma informação sem ter certeza de sua veracidade, na verdade, está fazendo o jogo do diabo".
De resto, a própria Dilma reuniu-se em Brasília com 24 missionários do Padre Eterno. Gente de 11 denominações religiosas.
Depois, em entrevista, disse, rodeada pelos convidados:
"Repudio integralmente afirmações que colocaram na minha boca de que eu usei o nome de Cristo para falar que nem ele me derrotava nessa eleição...”
“...É uma calúnia, é uma vilania. Esses boatos saíram do submundo político e são típicos de final de campanha".
Dilma aproveitou para para declarar que é “contra” a legalização do aborto. Embora parte do PT defenda a ideia, assegurou que, eleita, não irá encampá-la:
“Somos um partido democrático. Não se trata de desautorizar [o debate], eu como presidente não irei tomar essa posição...”
“...Não sou a favor de modificação a legislação. Deixe ao Congresso a iniciativa". Pode ser. Porém...
Porém, nesse ponto, Dilma soaria mais sincera se admitisse que mudou de posição. Em manifestações anteriores, defendera a legalização do aborto.
Em entrevista à revista Marie Claire, por exemplo, fora inquirida acerca do tema. A resposta consta do rodapé da terceira parte da transcrição da conversa:
“Abortar não é fácil pra mulher alguma. Duvido que alguém se sinta confortável em fazer um aborto. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização. O aborto é uma questão de saúde pública...”, dissera Dilma.
De passagem pelo Rio, a evangélica Marina Silva cuidou de realçar acontradição:
"Eu não faço discurso de conveniência. A ministra Dilma já disse que era a favor e depois mudou de posição...”
“...Não acho que, em temas como esse, se deva fazer um discurso uma hora de uma forma e outra hora de outra só para agradar o eleitor".
Nessa matéria, a propósito, Edir Macedo não é boa companhia para a nova Dilma. O bispo é francamente favorável ao aborto (assista).