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sábado, 4 de setembro de 2010

QG de Serra traça neste sábado reação ao ‘fiscogate’

Fotos: Folha e Ag.Senado

Sem a presença de José Serra, que faz campanha no Paraná, o alto comando do comitê tucano se reúne neste sábado (4), em São Paulo. O encontro foi convocado a toque de caixa, na noite passada. Convidaram-se líderes das três principais legendas da coligação de Serra: PSDB, DEM e PPS.

Será uma conversa de tema único: a violação do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB e a Serra. Entre elas a filha do candidato, Verônica. Para Serra e seus aliados, o escândalo do fisco mudou de patamar nas últimas horas, achegando-se mais ao PT e à campanha de Dilma Rousseff.

São duas as razões que levam à crença:

1. A revelação de que Antonio Carlos Atella Ferreira, o falso procurador de Verônica Serra, ostentava carteirinha do PT no instante em que apalpou-lhe os dados fiscais.

2. O adensamento da suspeita de que as informações sigilosas de Verônica e de outras cinco pessoas ligadas a Serra tiveram como destinatário o grupo de “inteligência” que operava no comitê de Dilma.

Entre as ideias que vão à mesa está a de recorrer contra a decisão do TSE que mandou ao arquivo a representação que o PSDB protocolara contra Dilma. Em privado, Serra descartara o recurso. Incomodara-se com a forma que a iniciativa assumira nas manchetes. Dissera que, se soubesse que a coisa seria noticiada como uma tentativa de cassação da candidatura de Dilma, não teria liberado os advogados para agir.

Na noite passada, Serra já não parecia tão avesso à ideia de levar o recurso ao TSE. Ponderava sobre a necessidade de esmiuçar os objetivos. No dizer do candidato, o que se deseja não é retirar a antagonista da disputa, mas abrir uma investigação jurídico-eleitoral. Algo previsto em lei.

Argumenta-se que a cassação do registro da candidatura não é a única pena prevista para casos do gênero. A legislação também contempla a alternativa da imposição de multa. De resto, o tucanato mira nos arredores da candidata. O alvo principal é o petista Fernando Pimentel. 

Serra atribui a Pimentel, hoje candidato do PT a uma cadeira de senador por Minas, suposta ascendência sobre o grupo que o tucano diz ter sido montado para espioná-lo.

Abaixo de Pimentel, o PSDB enxerga dois alvos secundários: os jornalistas Luiz Lanzetta e Amaury Ribeiro Jr.. A empresa de Lanzetta, Lanza Comunicação, fora contratada pelo comitê de Dilma para operar na área de comunicação da campanha.

Amaury, que prepara um "livro-bomba" sobre a era FHC, tomou parte de reunião que levou à dissolução do grupo de inteligencia do comitê de Dilma.

Deu-se em em 20 de abril de 2010, num conhecido restaurante de Brasília, o Fritz. Ganhou as manchetes em junho passado. Descobriu-se que Lanzetta e Amaury dividiram a mesa com três personagens. Um era o delegado aposentado da PF Onézimo Souza

Os outros dois eram egressos de órgãos de informação de Brasília. O principal chamava-se Idalberto Matias de Araújo, ex-agente do Serviço Secreto da Aeronáutica. Em entrevista à revista Veja, Onézimo dissera à época ter sido chamado para uma reunião com Fernando Pimentel.

Segundo a versão do delegado de pijama, ao chegar ao restaurante deparou-se com Lanzetta e Amaury. Falando supostamente em nome de Pimentel, Lanzetta lhe teria proposto um contrato com o objetivo de estruturar investigações “pessoais” contra Serra.

Nas palavras de Onézimo, desejava-se levantar "tudo o que pudesse ser usado contra ele [Serra] na campanha, principalmente coisas da vida pessoal”. Fernando Pimentel emitiu na ocasião uma nota na qual escreveu: “Repilo a insinuação de que eu teria tomado conhecimento de um encontro entre este sr. Onézimo e o jornalista Luiz Lanzetta".

Lanzetta confirmou a reunião. Mas negou as acusações do delegado. Amaury ecoou o amigo. Disse que a encomenda era outra. Desejava-se contratar Onézimo para perscrutar a origem de vazamentos de informações estratégicas do comitê de Dilma.

Lanzetta pediu a rescisão do contrato de prestação de serviços de sua empresa à campanha de Dilma. E Pimentel foi cuidar de sua campanha em Minas. De resto, Dilma cuidou de dissolver o tal grupo de “inteligência” que operava em seu comitê.

Antes da reunião do reunião do Fritz (abril) e do noticiário que a expôs (junho), aconteceu, em janeiro de 2010, um diálogo de Serra com Lula. Nessa conversa, Serra diz ter levado ao presidente cópias de textos que haviam ganhado a web em blogs simpáticos ao PT e à campanha de Dilma.

Segundo Serra, as peças traziam, já naquela época, dados fiscais sigilosos de Verônica, sua filha. O candidato diz que “alertou” Lula. Nesta sexta (3), o presidente admitiu o diálogo de janeiro. Mas fez uma ressalva: Serra “não me alertou. Ele se queixou”.

Atribuiu aos queixumes de Serra o peso de uma “futrica menor”. Disse que não lhe cabe censurar a internet. Lula lembrou que ele próprio e sua família são alvos de aleivosias na web. E afirmou que tem coisa mais séria a fazer do que cuidar da “dor de cotovelo do Serra”.

Serra e seus assessores agora afirmam que também o livro que Amaury Ribeiro Jr. mantém no forno foi recheado com os dados extraídos ilegalmente da Receita. Em diálogos privados, o repórter nega. Diz que não se baseou senão em documentos oficiais. O livro só deve escalar as prateleiras depois da eleição.

A decisão de protocolar ou não o recurso para tentar convencer o TSE a abrir uma investigação jurídico-eleitoral dependerá de uma palavra final de Serra. O arquivamento da representação original foi determinado pelo corregedor-geral eleitoral, ministro Aldir Passarinho Jr.. Alegou que a coligação de Serra não juntou provas capazes de demonstrar que os vazamentos da Receita resultaram em benefício eleitoral para Dilma.

Anotou que o caso é passível de investigação, mas não na seara eleitoral. E lembrou que a apuração já está sendo feita, sob a supervisão do Ministério Público. Se for ajuizado, o recurso do PSDB subirá ao plenário do TSE, composto de sete ministros.

O encontro do alto-comando do QG de Serra pode desaguar numa entrevista, a ser concedida na tarde deste sábado (4). Vai-se saber, então, que providências o comitê tucano planeja adotar.