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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sindicato dos jornalistas tenta explicar o inexplicável

Alguém já disse, o repórter não se lembra quem, que o Brasil é um país de cabeça para baixo. Aqui, prostitutas gozam e traficantes cheiram.


Nesta terça (23), surgiu outra evidência: o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo abrigou uma manifestação contra a imprensa. Deu-se à pajelança o nome de “ato contra o golpismo midiático”.

Em nota levada à página da entidade na web, o presidente da casa sindical, José Augusto Camargo, informou: A abertura das portas do sindicato para a realização de evento anti-mídia “provocou grande debate na categoria”.

Disse ter recebido “algumas manifestações contrárias ao ato”. Quantas? Absteve-se de informar. Decidiu divulgar “algumas delas”. Quantas? Apenas três.

Numa, o jornalista Marco Antonio Rocha anotou: “Peço que fique consignado nos anais do sindicato e na sua pasta de correspondência meu total repúdio a este ato contra a imprensa...”

“...[...] Trata-se, evidentemente, de um ato de apoio total aos arreganhos que Sua Excelência o senhor presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, tem proferido contra a imprensa e contra o trabalho dos jornalistas”.

Noutra, a repórter Arlete Mendes de Souza queixa-se do fato de o sindicato adotar posição “político-partidária (de apoio ao partido), sem considerar os escândalos que estão acontecendo e que exigem apuração séria e urgente”.

Na terceira, Regina Costa e Silva escreveu: “Sou jornalista e não me sinto representada por esse ato, decidido sem consulta à categoria. Depois de tantos documentos, contratos, provas, dinheiro na cueca, na meia, em gavetas, o que quer o Sindicato? Conclamar pela volta da censura à mídia?”

Pois bem. Submetido a tais questionamentos, José Augusto, o presidente do sindicato, viu-se compelido a divulgar nota de esclarecimento. No texto, esforça-se para explicar o inexplicável. Diz que “o conceito de golpe midiático ganhou notoriedade nos últimos dias”.

Parte-se, segundo ele, “da constatação de que setores da imprensa passaram a atuar de maneira a privilegiar uma candidatura em detrimento de outra”. Não deu nome aos bois. Mas encampa a tese lulista segundo a qual a imprensa, por partidária, age para beneficiar José Serra e prejudicar Dilma Rousseff.

Acha “legítimo - e desejável – que as direções das empresas jornalísticas explicitem suas opções políticas, partidárias e eleitorais”. Mas considera “inaceitável é que o façam também fora dos espaços editoriais”. Como assim?

“Distorcer, selecionar, divulgar opiniões como se fossem fatos não é exercer o jornalismo, mas, sim, manipular o noticiário cotidiano segundo interesses outros que não os de informar com veracidade”.

Acrescentou: “Se esses recursos são usados para influenciar ou determinar o resultado de uma eleição, configura-se golpe com o objetivo de interferir na vontade popular”.


Noutro trecho tratou os jornalistas que deveria representar como parvos, indivíduos que terceirizaram a própria consciência: “Cada vez menos jornalistas detêm o poder da informação que será fornecida à opinião pública”, escreveu.

Ignora o fato de que os editores de jornais, revistas, rádios e TVs não são senão jornalistas. Sustenta que a informação “passa por uma triagem prévia já no seu processo de edição e aqueles que descumprem a dita orientação editorial são penalizados”.

Alega que seus pseudo-representados “nunca conseguem atingir cargos de direção que, agora, são ocupados por executivos que atendem aos interesses de comitês, bancos associados, acionistas etc”.

Rematada tolice. As redações estão apinhadas de jornalistas que ocupam funções de coordenadores, secretários de redação e editores-executivos.

Num raro flerte com o óbvio, concorda que “informar a população sobre os desmandos do governo (qualquer deles) é dever da imprensa”. Mas logo retoma a cantilena:


“Orquestrar campanhas pró ou contra candidatos é abuso de poder”. Esquiva-se de elencar os exemplos que o levaram a concluir pela existência de orquestração.

Por fim, escreve: “A ideia de debater e protestar contra esse estado de coisas resultou na realização do ato em defesa da democracia e contra o golpismo midiático”.

José Augusto Camargo talvez devesse adotar para si o conselho que dá às “direções das empresas jornalísticas”. Poderia informar que, filiado à CUT, o sindicato que dirige rendeu-se aos interesses do PT e da candidata de Lula.

No mais, conviria que desperdiçasse um naco de seu tempo com a leitura do noticiário que levou o governismo a investir contra a imprensa, fabricando "esse estado de coisas".

Encontrará fatos que produziram, por ora, quatro demissões, incluindo a de uma ministra, além de inquéritos policiais e processos administrativos.