Lula Marques/Folha

O pobre sua a camisa para ganhar dinheiro. O rico multiplica dinheiro. O falsário falsifica dinheiro. O ladrão rouba dinheiro. Todo mundo ambiciona dinheiro.
Mesmo nas descrições de contos fantásticos não se encontra um caso de louco que queime ou jogue dinheiro pela janela.
Pois bem. Aconteceu em Roraima, nesta sexta (1º), um episódio que subverte a lógica monetária da existência humana.
Protagonizou o caso o empresário Amarildo da Rocha Freitas, colaborador voluntário da campanha reeleitoral de Romero Jucá (PMDB), líder de Lula no Senado.
Amarildo foi ao escritório de campanha de Jucá. Deixou o prédio carregando um envelope. Entrou no carro, deu a partida e saiu.
Súbito, Amarildo percebeu que um veículo da Polícia Federal o seguia. Apanhou o envelope e arremessou-o pela janela do carro.
Os agentes da PF recolheram o refugo num matagal. Dentro, encontraram R$ 100 mil. Detido, Amarildo foi inquirido.
Irmão do deputado Urzeni Rocha (PSDB-RR), Amarildo contou que recebera a grana das mãos de Jucá.
Livrou-se da pecúnia, segundo disse, porque ficou “assustado” com o assédio da PF.
Ns pegadas de Amarildo, foi à sede da PF em Boa Vista o próprio Jucá. Acompanhou-o o deputado Márcio Junqueira (DEM-RR).
À polícia e aos repórteres, Jucá negou que os R$ 100 mil lhe pertençam. Disse mais:
"Não entreguei dinheiro a ninguém, não é dinheiro meu, não é dinheiro de campanha, todo o nosso dinheiro está declarado".
Na última quarta (29), a PF já havia apreendido R$ 80 mil com um coordenador da campanha de Jucá. Suspeita-se que seria usado para comprar votos.
Nesse caso, o comitê de Jucá alegou que as notas serviriam para remunerar o trabalho de cabos eleitorais.
Como se vê, tudo corre dentro dos conformes na campanha do líder do governo no Senado. Em Roraima, quando vê muita esmola, a Justiça Eleitoral nem desconfia.