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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Na aurora do 2º turno, campanha vai à ‘Idade Média’

Nesta sexta (8), Dilma Rousseff e José Serra voltaram à televisão. Até o dia 28, antevéspera do desfecho da eleição, as aparições serão diárias.

Na peça do alto, você assiste à propaganda de Serra. No vídeo lá do rodapé, você vê o programa de Dilma. Agora, o tempo é igual: 10 minutos.

Quem assiste fica com a impressão de que, no alvorecer do segundo turno, a campanha de 2010 ingressou na Idade Média.

Os dois candidatos renderam-se à pauta beata. Serra mergulhou na onda que tenta enganchar em Dilma a pecha de pró-aborto.

O tucano foi apresentado como alguém "que sempre condenou o aborto e defendeu a vida". O próprio Serra soou assim na propaganda:

"Eu quero ser um presidente com postura, equilíbrio e que defenda os valores da família brasileira...”

“...Os valores cristãos, a democracia, o respeito à vida e o meio ambiente". A referência ambiental foi afago oportunista em Marina Silva.

A certa altura, irrompem no vídeo mulheres grávidas, barrigas e dentes à mostra. Enaltece-se um programa do Serra governador, de atendimento pré-natal.

Dilma levou Deus aos lábios. Agradeceu ao Padre Eterno a “dupla graça”: os 47 milhões de votos e a oportunidade de continuar debatendo o Brasil.

A pupila de Lula diz que faz uma "uma campanha em defesa da vida". Afirma que sofre "na pele uma das campanhas mais caluniosas" da história.

Mais adiante, uma ariz contratada ecoa a candidata. Diz que, "infelizmente, uma corrente do mal" ganhou a a internet.

Coisa urdida "para espalhar anonimamente mentiras contra a Dilma". Faz um apelo ao espectador: "Não acredite nisso...”

“...Dilma é uma mulher honesta, que respeita a vida e as religiões". Recomenda que as “mentiras” sejam respondidas com "uma mensagem de amor”.

Mais adiante, reprisa-se um vídeo que já havia sido veiculado antes. Nele, Lula diz que Dilma sofre o “jogo sujo” religioso que já fora usado contra ele.

A propaganda enaltece a mulher. De quebra, também afaga Marina. Dilma martela um lero-lero que Lula desfiara na véspera, numa entrevista dada no Rio.

Afirma que, somando-se os seus seus votos aos de Marina, chega-se a 67% do eleitorado. Evidência de que a maioria quer uma mulher na presidência.

Segue-se a exibição de uma sequência de fotos. Numa delas, Dilma aparece segurando o neto recém-nascido, Gabriel.

No primeiro turno, Dilma já havia convertido o neto em peça eleitoral no twitter e no sítio de campanha. Mas evitara exibir Gabriel na propaganda televisiva.

No programa de Serra, uma novidade: exibiu-se pela primeira vez uma foto de FHC, o ex-presidente que o petismo demoniza.

A imagem de FHC emergiu no miolo de uma galeria marqueteira. Primeiro, aparece um quadro com o rosto de Fernando Collor.

Em off, a voz do locutor: "Esse foi o último presidente desconhecido que o Brasil elegeu”. Irrompe em cena o retrato de Itamar Franco.

E o lucutor: “O estrago [do Collor] foi tão grande, que precisou desse para trazer decência". Só então surge FHC, o presidente “que trouxe a estabilidade”.

Novo retrato. Na moldura, o rosto de Lula, apresentado como gestor que “deu continuidade” a FHC.

Por último, um quadro com a face de Serra, vendido como o “próximo” presidente da República.

Como que antevendo a tática adversária, um pedaço da propaganda de Dilma foi usado para reforçar o discurso do plebiscito.

Uma atriz aparece ao lado de um mapa do Brasil. Afirma que, numa gestão à FHC, o Brasil teria sido privado das conquistas obtidas sob Lula.

O país não teria o Bolsa Família, não teria o Minha Casa, Minha Vida, não teria os 14 milhões de novos empregos, não teria isso, não teria aquilo.

À medida que vão sendo empilhadas as “realizações”, o mapa do Brasil vai diminuindo de tamanho.

Os comitês de Dilma e de Serra correm contra o relógio. Reclamam que, no segundo turno, o tempo é curto.

Quem viu os dois programas teve a impressão de que as horas mais preciosas desse resto de campanha serão as mais rápidas. Ah, como serão demoradas as outras!

A marquetagem dos dois comitês parece decidida a recordar à platéia que as fogueiras da inquisição um dia já foram pós-modernas.

De resto, o “plebiscito”, antes restrito às eras de FHC e de Lula, já recuou ao Brasil de Collor. O futuro? Que Deus responda por ele.