Arte/UOL

O debate sobre o aborto mudou de palco. Saiu dos templos para a Justiça, da propaganda eleitoral para a polícia.
Deve-se a migração a uma encrenca iniciada no final de semana. Envolve a impressão de 1,2 milhão de panfletos.
Nas peças, desaconselha-se o voto em candidatos favoráveis à descriminalização do aborto.
O nome de Dilma Rousseff é explicitamente mencionado.
Acionada pelo PT, a Justiça Eleitoral determinou a apreensão dos panfletos. Coube à Polícia Federal cumprir a ordem, em São Paulo.
A encomenda dos panfletos foi atribuída à Regional Sul 1 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Porém...
Porém, um detalhe aproximou a encrenca do tucanato. O material anti-Dilma foi rodado em gráfica que tem como sócia a irmã de um coordenador de Serra.
A gráfica se chama Pana. A sócia que aproxima o caso do comitê de Serra é Arlety Satiko Kobayashi. Possui 50% do negócio.
Arlety sentou praça no PSDB desde 1991. É irmã de Sérgio Kobayashi, coordenador do setor de infraestrutura da campanha de Serra.
Em petição protocolada no TSE, o PT pediu a abertura de um inquérito policial. Deseja acomodar o caso em pratos asseados.
Responsável pela área jurídica da campanha de Dilma, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), evitou fazer acusações frontais.
Mas disse que são “veementes” os indícios de que a campanha tucana está por trás da produção dos panfletos.
Instado a comentar o assunto, Serra tomou distância: "O fato de gráfica ser de parente de alguém ligado à campanha é totalmenteirrelevante".
Acha que associar a gráfica à campanha é como "procurar pelo em casca de ovo". Como assim?
"Há uma relação lícita entre um cliente e uma gráfica e nossa campanha não tem nada a ver com isso", disse Serra.
Mal comparando, Serra vive experiência análoga à que experimentou Dilma quando explodiu o ‘Fiscogate’.
Descobriu-se que o falso procurador que apalpou os dados fiscais da filha de Serra, Verônica, era filiado ao PT.
Na ocasião, Dilma disse coisa muita parecida ao que afirma Serra. A petista declarou que a vinculação partidária não autorizava ilações. O tucanato dava de ombros.
Serra insistia em vincular a violação fiscal da filha à campanha de Dilma. Agora, diz que é “totalmente irrelevante” o elo tucano Panfletogate.
Dessa vez, é Dilma quem soa como Serra. Ouvida nesta segunda (17), a candidata petista tachou de "lamentável" o vínculo do PSDB com os panfletos.
Diferentemente de Cardozo, que falou em “indícios”, Dilma soou muito próxima do convencimento: "Lamento profundamente o uso desses métodos...”
“...A Legislação eleitoral proíbe e configura crime. Se houver ligação com o PSDB, acho que é lamentável que isso tenha acontecido".
Apresentado como responsável pelo contato com a gráfica, Kelmon Luís de Souza disse ter encomendado a impressão de 20 milhões de panfletos.
Atribuiu a encomenda à Diocese de Guarulhos (SP). Um pedaço da Igreja comandado pelo bispo Luiz Gonzaga Bergonzini, que não esconde a aversão ao PT.
Os panfletos trazem, porém, a inscrição “Regional Sul 1 da CNBB”. Uma nota divulgada por esse braço da Igreja Católica tonificou injetou mistério no caso.
“O Regional Sul 1 da CNBB desaprova a instrumentalização de suas declarações e notas”, diz o texto.
“E enfatiza que não patrocina a impressão e a difusão de folhetos a favor ou contra candidatos”.
Assina o texto Dom Nelson Westrupp, presidente do Conselho Episcopal Regional Sul 1. Como se vê, há matéria-prima para uma boa investigação.
Perguntou-se a Serra se o Panfletogate poderia levar à sua campanha prejuízos semelhantes aos que o Erenicegate ocasionaram à cruzada de Dilma.
Serra disse que não: "Um [caso] envolve dinheiro público e o outro é factoide".
Ironicamente, Serra invoca o mesmo vocábulo que Dilma utilizara quando Erenice Guerra foi às manchetes como um problema: “Factoide”.








