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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

José Serra atribui alta dos juros à ‘festança eleitoral’

Lula Marques/Folha
Um dia depois de o Banco Central ter elevado os juros de 10,75% para 11,25% ao ano, o tucano José Serra criticou a medida em timbre ácido.
Plugado à web na noite desta quinta (20), Serra pendurou uma, duas, três notas sobre o tema no seu twitter.
Mencionou o óbvio: “Os juros reais brasileiros, que já eram os mais altos do mundo, cresceram mais”.
Ironizou o início de gestão de Dilma Rousseff: “Até agora, esta foi a medida mais importante do atual governo”.
Numa alusão à política de cofres abertos adotada no final da gestão passada, anotou que “a causa” da puxada nos juros foi “a festança eleitoral do governo Lula-Dilma”.
Serra orçou o “custo” do meio ponto percentual injetado na taxa anual de juros: “O governo federal vai gastar cerca de R$ 8 bilhões anuais pagando juros”.
Comparou: “Isso equivale a quase dois terços do que se gasta com o Bolsa Família. É superior ao orçamento de 12 Estados”.
No pronunciamento em que reconheceu a derrota para Dilma na corrida presidencial encerrada em outubro de 2010, José Serra dissera:
“Para os que nos imaginam derrotados eu quero dizer: nós apenas estamos começando uma luta de verdade...”
“...Minha mensagem de despedida neste momento não é um adeus, mas um até logo”.
Pois bem. Serra voltou. Depois de um mergulho de pouco mais de dois meses, dedica-se a espinafrar o novo governo no microblog.
Serra exercita agora todo o oposicionismo que hesitou em praticar no ano passado. Na briga pelo voto, revelou-se capaz de tudo, exceto de se opor a Lula.
Na primeira fase da campanha, Serra surpreendeu até os aliados ao levar a foto de Lula à propaganda televisiva, associando sua biografia à do patrono da rival.
Passada a quarentena da derrota, o ex-quase-oposicionista leva às fronteiras da web um antagonismo em seu grau máximo.
Nos últimos dias, o Serra do microblog revelou-se um adversário atento. Nada parecia escapar-lhe ao campo de visão.
Discorreu sobre o flagelo que produz cadáveres em conta-gotas na região serrana do Rio de Janeiro. Primeiro, mirou em São Pedro:
“Quaisquer que sejam as responsabilidades históricas e atuais dos governos, as catástrofes decorrentes das chuvas...”
“...Têm a ver com o volume inusitado de água nos anos recentes. São verdadeiras mudanças climáticas, que, aliás, envolvem todo o mundo”.
Depois, Serra voltou-se contra a dupla que o fez amargar sua segunda derrota em eleições presidenciais. Soou implacável:
“As tragédias não serão atenuadas com o gogó. Não bastam anúncios, como os feitos pelo governo Lula-Dilma há um ano e nada acontecer”.
Oposicionista retardatário, Serra já nem se importa em flertar com um surto de amnésia.
O grão-tucano se esquece de recordar que, até bem pouco, governava uma São Paulo que, submetida à hegemonia tucana, convive com cheias anuais.
No twitter, Serra salta de um assunto a outro com a velocidade de um raio. Servindo-se do noticiário sobre o descalabro da Funasa, recobra a memória:
“Como eu disse mil vezes o PT destruiu a Funasa e a Anvisa, com fisiologismo, corrupção e incompetência”.
Antes mesmo da subida dos juros, Serra realçava a herança deixada por aquele Lula que, na campanha, dissera estar “acima do bem e do mal”:
Escreveu: “Economia brasileira hoje: inflação em alta, déficit sideral do balanço de pagamentos, nó fiscal, carências agudas de infraestrutura...”
Acrescentou: “...Tudo isso foi produzido no governo Lula-Dilma e deixado para o governo Dilma. Ou não?”
Num instante em que o DEM se auto-extirpa numa guerra interna e o PSDB discute o significado do vocábulo “refundação”, Serra desce à arena com disposição de leão.
Não parece disposto a entregar de mão-beijada ao neo-senador Aécio Neves os títulos de “líder da oposição” e de "candidato natural".
Aécio fala em “construir pontes”. Serra, antes acomodatício, acomoda dinamite nos pilares. Decifra-se o enigma do “até logo” de outubro. Significa 2014.