Pesquisar este blog

Total de visualizações de página

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Depois de perder Furnas, deputado ‘engole’ ameaças

  Antônio Cruz/ABr
“Com relacão à troca de Furnas, gostaria de dizer que [...] a presidente tem todo o direito de nomear e demitir quem quiser”.
A frase acima, de conteúdo óbvio, foi pendurada no twitter pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-SP).
Ele plugou-se à internet depois de receber, sem prévio aviso, uma péssima notícia. Perdeu um feudo que conquistara sob Lula.
Valendo-se do direito constitucional de “nomear e demitir quem quiser”, Dilma Rousseff mandou ao olho da rua Carlos Nadalutti.
Apadrinhado por Cunha, Nadalutti presidia a estatal Furnas Centrais Elétricas. Vai à poltrona Flávio Ducat, um afilhado de José Sarney (PMDB-AP).
No microblog, Cunha simulou contentamento:
“Fico feliz com a escolha porque corrobora a lisura da atual administração, já que Decat [sic] foi presidente do Conselho [de Furnas] boa parte dessa gestão”.
Nas últimas semanas, o deputado defendia a trincheira que cavara em Furna$ borrifando ameaças na atmosfera política.
Alvejado por um dossiê que empilhou malfeitos praticados na estatal, Cunha recorrera ao ataque como tática de defesa.
Atribuíra a elaboração da peça, levada ao Planalto pelo petista Jorge Bittar (RJ), a interesses subalternos do PT.
Embora tenha sido batido não pelo PT, mas pelo PMDB do Senado, Cunha agora se abstém de alvejar Sarney. Prefere manter as baterias voltadas para o petismo:
“Quero reafirmar que não produzi dossiês nem ameacei ninguém. Fui, sim, vítma dos dossiê apócrifos de setores do PT”.
Cunha tornou-se, porém, protagonista de uma constrangedora meia-volta. Passara dias insinuando que reagiria à perda de poder com base na lei de Talião.
Súbito, depois de perder os dentes e os olhos que o vinculavam às arcas de Furnas, o deputado refluiu da tática do “dente por dente, olho por olho”. Preferiu assoprar:
“Esse denuncismo irresponsável não tem e nunca terá o meu apoio. Não tenho e nem nunca tive qualquer denúncia a fazer”.
Em verdade, a suposta irresponsabilidade denuncista resultou na formação de uma onda que engolfou o misterioso prestígio de Cunha.
Vieram à luz informações que, submetidas à checagem jornalística, escalaram as manchetes na forma de escândalo.
Apenas um dos lances malcheirosos de Furnas resultou em prejuízos à Viúva de R$ 73 milhões (aqui e aqui).
Cunha, porém, não se deu por achado. Referindo-se a Nadalutti, o operador cujo escalpo Dilma mandou à bandeja, o deputado anotou:
“Quero deixar o reconhecimento ao trabalho, à correcão e à eficiencia do atual presidente de Furnas”.
Esquivando-se de esmiuçar as denúncias que diz que não fará, Cunha dá a entender que teria revelações a fazer.
Numa derradeira nota, manifestou “o reconhecimento de que [Nadalutti] corrigiu os erros e os prejuízos causados pela administração dos que lhe atacaram e a mim”.
Na noite da véspera, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, fizera uma visita ao chefão da Casa Civil de Dilma, o ministro petista Antonio Palocci.
Lero vai, lero vem Henrique disse a Palocci que a bancada pemedebê do Rio não abriria mão de Furnas.
Àquela altura, Eduardo Cunha e seus aliados ainda não pareciam convencidos de que Dilma “tem todo o direito de nomear e demitir quem quiser”.
Henrique avisou a Palocci que a opção por Ducat, vinculado a Sarney, seria rejeitada pelos deputados. Desejava-se submeter outros nomes à presidente.
Informada, Dilma optou por apressar a descida da lâmina. Evoluiu da cara de nojo para a pantomima da troca de colo.
Retirou Furnas do colo do PMDB da Câmara e acomodou a estatal no colo do PMDB do Senado.
Trancado em seus rancores, Eduardo Cunha retorna ao habitat preferido: os subeterrâneos. Fecha o paiol e reorienta a infantaria.
Prepara-se para acomodar um deputado que lhe devota fidelidade na comissão de Minas e Energia da Câmara, por onde passam os projetos do setor elétrico.
Continua boiando na atmosfera seca de Brasília uma pergunta irrespondida: de onde vem o poder de Eduardo Cunha?