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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Dezenas de mortos em confrontos no Sudão do Sul

 Festejos após o referendo no Sul ganho pelos independentistas ASHRAF SHAZLY/AFP

Por Rita Siza
Líder rebelde viola acordo de cessar-fogo assinado há um mês e ressuscita receios de violência e instabilidade após a divisão do Sudão em Julho.
Dois dias de confrontos entre membros do Exército do Sudão do Sul e uma facção rebelde, no estado de Jonglei, fizeram mais de cem mortos e dezenas de feridos, a maior parte civis, e alimentam os receios de um novo período de conflito e instabilidade depois da independência daquela região, votada praticamente por unanimidade em meados de Janeiro.

O porta-voz das tropas do Sul, coronel Philip Aguer, explicou que a violência começou quando um antigo oficial militar que se amotinou em Abril do ano passado, George Athor, decidiu violar um acordo de cessar-fogo assinado há um mês e atacar as localidades de Fangak e Cor, por razões ainda não totalmente determinadas.

O comandante renegado assumiu o controlo de Fangak na quarta-feira e continuou a combater na quinta, mas ao final do dia o Exército do Sul já tinha dominado os membros da milícia rebelde e recuperado a autoridade territorial. O coronel Aguer garantiu que nenhuma actividade subversiva foi reportada ao longo do dia de ontem. Numa declaração à rádio do Sudão, George Athor disse que foi o antigo Exército da Libertação do Povo do Sudão o responsável pela troca de tiros.

O Exército confirmou a morte de 20 soldados e polícias na sequência dos confrontos, e identificou pelo menos 30 rebeldes entre os cadáveres. O número de vítimas civis nas duas localidades ascende a 89, segundo as informações oficiais.

O comandante George Athor desvinculou-se das forças do Sul para liderar um grupo armado de resistência e combate ao governo do Presidente do Sul, Salva Kiir, depois de alegadamente ter sido impedido de assumir o governo de Jonglei, o estado mais populoso do Sul. Em Setembro de 2010, o governante sulista (e vice-presidente do país) propôs-lhe uma amnistia e, a 5 de Janeiro deste ano, acordou com ele um cessar-fogo, que serviu de garantia para a realização do referendo para a autodeterminação da região.

Essa votação foi uma das condições do acordo de paz de 2005 que pôs fim a mais de duas décadas de guerra civil entre o Norte, de maioria islâmica e economicamente mais desenvolvido, e o Sul, habitado por cristãos e animistas e uma das regiões mais pobres do mundo. Os resultados da votação foram oficializados na segunda-feira: 98 por cento dos eleitores escolheram a secessão do Norte. O novo país ganhará a independência a 9 de Julho.

Um representante da missão das Nações Unidas no Sudão, Kouider Zerrouk, manifestou ontem "extrema preocupação" com o "recrudescimento da violência" dos últimos dias. Há uma semana, a anunciada partição do país originou um pequeno motim dos soldados do Sul integrados nos batalhões das Forças Armadas do Norte, provocando 60 mortes. Na quarta-feira, um ministro do governo do Sul foi assassinado no seu gabinete da capital, Juba. E a organização médica Médicos Sem Fronteiras denunciou um significativo acréscimo de pacientes feridos por tiros.

Entretanto, a agência das Nações Unidas para os refugiados alertou para a possibilidade de 800 mil pessoas abandonarem o Norte e regressarem ao Sudão do Sul depois da independência - uma hipótese que, referiu a organização, terá imediata repercussão na situação humanitária da região.