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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Frankenstein prevalece sobre Drácula-faraó no Egito

A felicidade é um sentimento novo no Egito. Explodiu há poucas horas nas ruas e nas praças, depois que Hosni Mubarak se deu conta de que era cachorro morto.
Em pleno 2011, o mundo árabe é apresentado a um tipo de emoção que eletrificou a Europa no século 19, o século das revoluções.
Perguntava-se à época se a Revolução Francesa havia libertado o espírito humano ou a besta humana.
Em sua forma mais ameaçadora, a de besta coletiva, a massa tornava-se ingovernável pela idéia insana de ser feliz como um aristocrata.
Num livro editado em 1818, o monstro tomou forma no laboratório do doutor Frankenstein.
Era feito de partes de cadáveres de camponeses, restos de um mundo em franca decomposição.
A criatura imaginada pela escritora Mary Shelley personificava a besta. Aterrorizava os senhores feudais, a classe proprietária de então.
O monstro inatural era movido à vontade de viver como gente. Queria ser humano. Ansiava a felicidade.
Assim como a fera do doutor Frankenstein representava a besta da massa emancipada, outro personagem simbolizava a aristocracia: Conde Drácula.
Não se tem notícia de que Hosni Mubarak chupasse o sangue de suas vítimas. Mas o ditador egípcio tornou-se, por assim dizer, um Drácula-faraó.
No Egito, a besta coletiva demorou 30 anos para agir. Em 18 dias, o monstro revelou o que o desejo de felicidade é capaz de realizar.
Mubarak cavou a própria desgraça. Assim como o Conde original, o Drácula-faraó quis ser eterno. Não se deu conta do próprio obsoletismo.
Transmitida pela televisão, ao vivo, a revolta fulminante do povo egípcio parece uma tomada de outro tempo. Um tempo morto.
É como se, com atraso secular, as câmeras da CNN e da Al Jazeera enviassem ao mundo as cenas do assalto dos camponeses ao castelo do Conde.
Em movimento iniciado na Tunísia, a besta árabe fez escala no Egito e percorre os arredores: Mauritânia, Argélia, Jordânia, Iêmen...
A nova história é escrita no asfalto de uma região periférica como numa vizinhança metafórica da Transilvânia.
Se a euforia da praça Tahrir, vitrine da revolução do Egito, pudesse ser unificada num único som, repetiria uma frase conhecida.
Reproduziria o comentário que monstro imaginado por Mary Shelley dirigiu ao doutor Frankenstein: “Faça-me feliz, mestre. E eu serei virtuoso”.
Neste 11 de fevereiro de 2011, as ruas do Egito quebraram os ovos. Para que o povo livre se converta em povo feliz, é preciso agora fazer a omelete.