Pesquisar este blog

Total de visualizações de página

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Líder do PMDB: ‘Unidade é a resposta ao preconceito’


Lula Marques/Folha
Passava de uma da madrugada quando tocou o celular de Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara. Era Antônio Palocci.
“Henrique, meus respeitos e meus parabéns. O PMDB foi exemplar”, disse o chefão da Casa Civil da Presidência da República.
Auxiliado pelo vice-presidente Michel Temer, Henrique proveu ao governo, na votação do salário mínimo de R$ 545, uma unidade que o Planalto imaginava impossível.
Ainda eufórico por ter uniformizado no painel eletrônico da Câmara os 77 votos de sua bancada, Henrique falou ao blog. Vai abaixo a entrevista:
- Como se explica a unanimidade pró-governo na votação do mínimo? Procurei demonstrar a cada um a importância da unidade do PMDB. Esse partido só será respeitado se estiver unido. Não falo do governo. Falo da opinião pública.
- Que argumentos usou? Eu disse a cada um deles que sou de um tempo em que tínhamos autênticos e moderados, partidários de Ulysses e Tancredo... Discutíamos internamente, mas na hora de votar o partido se unia. Foi essa unidade que fez o partido crescer.
- Dizia-se que o PMDB se vingaria do governo por ter perdido o controle de Furnas... Essa foi uma motivação a mais para que buscássemos a unidade. Falam do PMDB ora com conceitos errados ora com preconceito. Ah, o partido vai retaliar porque não teve a nomeação tal. Ah, vai se vingar porque perdeu o cargo tal. Mostramos que o PMDB não é isso. Nossa unidade foi a resposta ao preconceito. Diziam que daríamos 55 votos, 60 votos, que a bancada do Rio não votaria porque perdeu Furnas. E nós respondemos com união. Mostramos que não nos pautamos por esse ou aquele cargo perdido.
- Mas há os cargos ainda por negociar, não? As demandas já foram encaminhadas por todos os partidos. No caso do PMDB, o governo já sabe quais são as participações que o partido deseja. Está sendo feita uma sistematização, para não haver conflito com outras legendas. Vão nos dizer, daqui a 10 ou 15 dias, qual será o espaço do PMDB e dos outros partidos.
- Espera obter contrapartida do governo? Não estamos preocupados com isso. Queremos resgatar o conceito da sociedade, a história do PMDB
- Unido, o partido não reforça seu cacife na partilha do segundo escalão? A prova de que não estamos preocupados com isso é que, dos 77 deputados do PMDB, cerca de 25 não votaram na Dilma. Apoiaram a candidatura do Serra. Essas pessoas não estão interessadas em cargos. Não querem nada. Votaram nos R$ 545 e na política de valorização do salário mínimo porque a causa era boa. Essa política garantiu ganho real de 57% para o trabalhador no período de Lula.
- Por que não aprovar o mínimo de R$ 560? Não votamos apenas nos R$ 545. Nós aprovamos uma política que vai assegurar um salário mínimo de R$ 620 em janeiro de 2012. Mais do que os R$ 600 propostos pelo PSDB.
- Que peso teve Michel Temer na obtenção da coesão partidária? Ele teve importância capital. Realizou conversas importantíssimas. Quando tive dificuldades com um ou outro deputado, liguei para ele. Me ajudou demais. O Michel gastou muita saliva nos últimos dias. Ele foi o autor da ideia de encaminhar o salário mínimo por meio de projeto, não de medida provisória. Nenhum partido com mais de 20 deputados deu 100% ao governo como o PMDB. Nem o PT, que teve sete ausências e dois votos a favor dos R$ 560.
- Pode dar um exemplo em que a participação de Temer foi crucial? Tem um deputado de Pernambuco, o Raul Henry, que é do grupo de Jarbas Vasconcelos. Fiz um apelo a ele para votar conosco. Ele estava em dúvida. O Michel veio à Câmara e levei o Raul até ele. O Michel reforçou o apelo, ponderou. À tarde, antes da votação, o Raul me avisou: ‘Henrique, foi seguir o partido. Conte comigo’. Houve vários outros casos. Prevaleceu o espírito partidário.  
- Por que o PMDB promoveu trocas de deputados na última hora? Teve um deputado, Nelson Bournier, do Rio, que é candidato a prefeito na terra dele. Vai enfrentar um deputado do PDT, que fez essa campanha a favor de um mínimo maior. Ele achou que seria prejudicado se votasse pelos R$ 545. Eu respeitei a posição dele. Mas não deixei votar. Ele é suplente. Liguei para o prefeito Eduardo Paes. Pedi que liberasse o titular da vaga, Pedro Paulo, secretário da prefeitura do Rio. Ele foi demitido e veio votar conosco. Pude liberar o deputado Nelson Bournier.
- Por que a oposição obteve menos votos do que se imaginava? A oposição não conseguiu encontrar um rumo. Uma hora falava em R$ 600, noutra em R$ 580, depois R$ 560. Mesmo em relação aos R$ 560, o DEM propunha que os R$ 15 extras fossem dados como ganho real. Na última hora, apareceu uma emenda do PDT mantendo os R$ 545 e adicionando os R$ 15 como antecipação do próximo reajuste. De repente, o DEM e o Paulinho [PDT] bateram boca no plenário, um acusando o outro. Não tiveram unidade.
- Não receia que a opção pelos R$ 545 traga prejuízo eleitoral para o PMDB? De jeito nenhum. Como disse, estamos olhando para o próximo reajuste, os R$ 620 de janeiro. Pela primeira vez eu vi uma discussão de salário mínimo na Câmara com as galerias vazias.
- Não estavam completamente vazias. O Vicentinho, relator, chegou a ser vaiado. Tinha no máximo 35 pessoas, todas uniformizadas, da Força Sindical. Nada mais.
- Não acha que a CUT se ausentou de propósito, para não constranger o PT? Não creio. Acho que os trabalhadores não se motivaram. As centrias ameaçaram lotar as galerias. O trabalhador não compareceu porque está satisfeito com a política que Lula instituiu e que Dilma está mantendo. Foi a primeira vez que vi uma votação desse tipo sem o tradicional clima de guerra.