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quarta-feira, 23 de março de 2011

Aos 45 anos, PMDB celebra direito de ocupar cargos

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O PMDB festejou na noite desta terça (22) aniversário de 45 anos.
Consideando-se o passado da legenda, foi uma celebração sui generis.
Para desassogo do morto Ulysses Guimarães, as estrelas do evento foram:
Um ex-aliado do tucanato, um ex-apoiador da ditadura...
Um ex-protagonista do governo Collor e uma ex-presidenciável do PFL.
Guindado à vice-presidência da República depois de ter apoiado o PSDB, contra Lula, Michel Temer defendeu o direito do partido de partilhar a máquina pública.
“PT e PMDB fizeram aliança. Então, temos o direito de ocupar os cargos”, declarou Temer.
Fisiologismo? Temer respondeu à pecha com ironia:
“Daqui a pouco, se lançarmos um candidato à Presidência e ganharmos, não vamos indicar ninguém para o governo...”
“...Como não somos fisiológicos, vamos deixar [as indicações] para os outros partidos”.
Em nome dos governadores do partido, discursou a maranhense Roseana Sarney, cristã nova na legenda.
Roseana iniciou a carreira política em 1990, ano em que se elegeu deputada federal pelo então PFL.
Em 2002, chegou a ser pré-candidata do pefelê à Presidência da República. Abalroada por um escândalo –o Caso Lunus—, desistiu.
Em 2006, Roseana associou-se à caravana presidencial de Lula. Só então, expulsa do PFL, filiou-se ao PMDB.
O senador José Sarney, pai de Roseana, também foi ao microfone no ato festivo do PMDB.
“Quero salientar que estou no PMDB há 29 anos”, exagerou Sarney. Em verdade, filiou-se ao partido há 26 anos.
Eleito deputado fedeal há 57 anos, Sarney passeou pelo PSD e pela UDN.
Nas pegadas do golpe militar, tornou-se um quadro da Arena, que viraria PDS. Presidiu as duas legendas 
Na sucessão de 1985, farejou a aversão das ruas a Paulo Maluf, que se apresentava como candidato do regime.
Decidiu associar-se, na eleição indireta do Colégio Eleitoral, à candidatura de Tancredo Neves.
Sarney ajudou a fundar a Frente Liberal (futuro PFL, hoje DEM). Para atenuar as resistências à sua acomodação na vice de Tancredo, filiou-se ao PMDB.
Beneficiado pelos vírus e pelas bactérias, virou presidente da República. “Caía no meu colo a maior tragédia nacional, a morte de Tancredo Neves”, recordou, na noite passada.
“E tive que sustentar a transição democrática”, jactou-se. “Tenho que dizer que foi o PMDB que sustentou esta transição, para não permitir que o Brasil voltasse pra trás”.
Para coroar a noite, discursou o atual líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros.
“Nosso partido trabalhou pela redemocratização, conseguiu anistia aos exilados políticos, convocou Assembléia Constituinte...”
“...Garantiu avanços sociais e econômicos. Essas contribuições não podem ser esquecidas”, disse Renan.
Logo ele que, eleito deputado federal pela primeira vez em 1978, pelo velho MDB, se associaria à dissidência que deu origem ao PSDB, em 1988.
Logo ele que, em 1989, migraria para o inexpressivo PRN, para participar do condomínio político que levaria Fernando Collor ao Planalto.
Um Collor que, prefeito de Maceió, merecera de Renan a pouco lisonjeira quaificação de “príncipe herdeiro da corrupção”.
Principal líder de Collor no Congresso, Renan costurou os acordos que possibilitaram a aprovação do pacote que confiscou a popupança dos brasileiros.
Só em 1992, desprestigiado por Collor nas disputas de Alagoas, Renan invocaria a corrupção como pretexto para retornar ao PMDB.
Agora, com a biografia adornada por escândalos próprios, Renan diz que o PMDB força o país a voltar-se para “sua gente mais pobre, mais simples”.
“Muitos vaticinavam o fim desta agremiação”, disse ele na festa dos 45 anos. “E a resposta [do PMDB] era dada nas urnas, com vitórias e mais vitórias”.
Um dos principais beneficiários da partilha de cargos patrocinada por Lula e replicada por Dilma Rousseff, Renan encenou a pantomima da candidatura presidencial do PMDB, em 2014:
“O calendário de transformações do Brasil agora será acelerado pela candidatura própria do PMDB”.
A certa altura dos festejos, Michel Temer mirou o retrovisor de glórias do PMDB:
“Observar o passado é importante para podermos projetar o futuro. Só chegamos a este presente em face da nossa história”.
José Sarney ecoou Temer: “O PMDB deixou a memória da sua história no coração do povo brasileiro...”
“...Se perguntarem quem foi o símbolo da liberdade, foi Ulysses Guimarães. Quem foi o símbolo das causas sociais? Foi Tancredo Neves...”
“...Esse não é só o partido da nossa vida, mas é o do nosso amor e do amor do povo brasileiro...”
“...E o povo brasileiro não precisa ter medo do futuro porque ele tem o PMDB como salvaguarda do seu destino”.
O barulhinho que se ouve ao fundo é o ruído de Ulysses Guimarães se contorcendo nas profundezas das águas frias de Angra dos Reis, onde jaz desde 1992.