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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Meirelles defende em artigo a ‘independência’ do BC

Num instante em que as projeções de inflação para 2011 ultrapassam os 6%, Henrique Meirelles saiu em defesa de sua gestão à frente do Banco Central.
Levou às páginas de ‘O Globo’ um artigo. Anota: durante os oito anos em dirigiu a instituição, “as decisões do BC sempre tiveram caráter técnico”.
Meirelles redigiu o texto em resposta a uma notícia da véspera. Informou-se que, em dezembro de 2010, Lula o teria impedido de elevar os juros.
A taxa da época era de 10,75%. A inflação já soluçava. De acordo com a informação contestada por Meirelles, Lula lhe teria dito:
“Não vai ter aumento dos juros no fim do meu governo. Agora, esse é um problema da Dilma. Fale com ela. Se tiver que subir juros, será no governo dela”.
De acordo com Meirelles, a notícia é “improcedente”. Daí sua decisão de redigir o artigo.
A peça ganha especial relevância porque chega num momento em que, sob Dilma Rousseff, o governo faz uma inflexão na tática de combate à inflação.
Agora comandado por Alexandre Tombini, o BC adiou para 2012 o esforço para devolver o índice de inflação para as cercanias da meta anual de 4,5%.
Alega-se que, servido em dosagens excessivas, o antídoto anti-inflacionário viraria veneno, comprometendo o crescimento do PIB. Algo que Dilma não admite.
Em seu texto, Meirelles não faz menção à atual gestão da política monetária. Porém, refere-se à autonomia que o BC usufruiu sob Lula como um retumbante acerto.
Comandante do BC ao longo dos dois reinados de Lula, Meirelles escreve a certa altura:
“A estabilização da economia brasileira e os benefícios usufruídos pela população, como consequência desta estabilidade, exigem que a história seja respeitada...”
“...É muito importante para o nosso futuro que as lições aprendidas com o resultado do que foi executado sejam incorporadas ao processo de formulação de políticas públicas no Brasil”.
Vai abaixo a íntegra do artigo de Henrique Meirelles:
“Sempre houve manifestações favoráveis ou contrárias às decisões do Banco Central (BC). Independentemente das opiniões a respeito dos juros, no entanto, as decisões do BC sempre tiveram um caráter técnico, sendo tomadas estritamente no âmbito do Comitê de Política Monetária (Copom).
A autonomia do BC no governo Lula é fato notório. As decisões basearam-se exclusivamente nos modelos macroeconômicos e na estrutura analítica do próprio Banco Central.
Este fato é testemunhado pelos inúmeros profissionais que passaram pelo BC nos últimos anos. Não procede, portanto, a informação de que eu tenha proposto uma elevação das taxas de juros em dezembro do ano passado e que este aumento tenha sido impedido.
Afirmações de fontes anônimas devem ser confrontadas com a realidade. A estabilidade e o desempenho da economia brasileira nos últimos oito anos são demonstrações da absoluta independência do BC.
A inflação orbitou em torno do centro da meta em todo o período, sendo que, nos últimos seis anos, quando a meta foi de 4,5%, a inflação média foi de 4,50%, descontados os efeitos primários dos choques de oferta, como determina a boa prática de política monetária.
As críticas severas a que estivemos sujeitos pelos adversários da política econômica adotada pelo Banco Central nestes oito anos, inclusive por ocasião da minha saída, são outra prova da independência da instituição em todo o período.
Aliás, os opositores da política praticada pelo BC, durante os oito anos, procuraram sempre desacreditá-la, numa escala crescente na medida que ficava claro seu sucesso.
Nunca deixamos de tomar medidas duras quando necessário. Ciclos anteriores, como em 2003, 2004 e 2008, são exemplos que falam por si mesmos.
Adicionalmente, devo chamar a atenção para o fato de que, no mês de dezembro/2010, o BC implantou um abrangente grupo de medidas macroprudenciais.
No fim de 2010, notamos uma persistente aceleração do volume de crédito ao consumo e indícios de que o nível de risco nas operações mais longas estava se elevando, com um aumento na taxa de inadimplência.
Tais sinais recomendavam a adoção imediata, ainda em 2010, de medidas prudenciais que evitassem o endividamento exagerado das famílias.
Medidas duras, porém, necessárias à luz da experiência internacional, que recomenda a tomada de ações preventivas nesses casos, visando a se evitar formação de bolhas de crédito.
Contudo, sabíamos que tais medidas também teriam um efeito colateral restritivo na politica monetária através do canal do credito.
Estima-se que tais medidas seriam equivalentes a uma elevação de 75 a 100 pontos na taxa Selic naquele momento. Os reflexos são visíveis na queda da evolução do volume de crédito concedido, como mostram os dados.
Seria um erro, no entanto, aumentar a Selic simultaneamente à adoção de medidas com impacto monetário relevante.
É regra básica de qualquer BC implementar ciclos de aperto ou afrouxamento monetário gradualmente, independentemente da dimensão e da extensão das mudanças.
O Relatório de Inflação de dezembro deixa clara a estratégia seguida e a visão à frente. É normal existirem tentativas de reescrever a história, já tendo sido dito que, no Brasil, mesmo o passado é incerto. Esta época está superada.
A estabilização da economia brasileira e os benefícios usufruídos pela população, como consequência desta estabilidade, exigem que a história seja respeitada.
É muito importante para o nosso futuro que as lições aprendidas com o resultado do que foi executado sejam incorporadas ao processo de formulação de políticas públicas no Brasil".