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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Caixa prepara 2º ataque contra o caseiro Francenildo

  Folha
Condenado ao fim de mês perpétuo, o trabalhador de renda miúda não é propriamente um investidor.

Só de raro em raro lhe sobra algum. Nessas ocasiões, o mais precavido leva o cobre à caderneta de poupança.

Trombeteada em comercial de bordão fácil –‘Vem pra Caixa você também’— a logomarca da CEF inspira nessa clientela de baixa renda enorme confiança.

Foi esse poder de sedução que levou o caseiro Francenildo Costa ao guichê da casa bancária oficial.

Num episódio conhecido, a conta de Fracenildo sofreu, em 2006, um ataque grosseiro.

O caseiro contara em CPI que o grão-petê Antonio Palocci frequentava mansão em cujas dependências trançavam-se pernas e intere$$es.

Súbito, violaram-lhe o sigilo bancário. Os números de sua popupança foram às manchetes.

Nesta quarta (15), o doutor Itagiba Catta Preta Neto, juiz da 4ª Vara da Seção Judiciária do DF condenou a Caixa a indenizar Francenildo.

Os advogados do caseiro tinham pedido R$ 17 milhões. O magistrado refugou o absurdo. Orçou os danos morais em R$ 500 mil. Atribuiu à pena "dupla função”:

“Busca reparar ou minimizar o dano causado, somando-se ainda um caráter punitivo ao seu causador a fim de que este não volte a incorrer na mesma prática".

Itagiba recordou: Francenildo "é pessoa humilde e, como muitos trabalhadores brasileiros, mantinha vida digna com esforçado e lícito labor...”

“...Sofreu confessada quebra de sigilo dos seus dados e merece ser indenizado".

Submetida à sentença, a Caixa anunciou que vai perpetrar um segundo ataque contra o caseiro: recorrerá da sentença.

O direito de Francenildo será levado ao banho-maria do Judiciário. Um recurso sobre o outro, a coisa não se resolve em menos de dez anos.

O crime contra o caseiro foi consequência do abuso de poder de duas pessoas físicas: além de Palocci, Jorge Mattoso, então presidente da Caixa.

A reação da instituição financeira converte a insensatez em arrogância de pessoa jurídica.

Aplicando-se ao caso uma dose de bom senso, a Caixa deveria, primeiro, indenizar Francenildo. Depois...

Depois, deveria mover ação de ressarcimento contra os autores do malfeito. Palocci talvez não possa ser alcançado.

Contra todas as evidências, o STF livrou a cara do ex-czar da economia petista. Deu-se em agosto de 2009, em julgamento de placar apertado –5 a 4.

Mas a denúncia contra Jorge Mattoso foi recepcionada. O ex-mandachuva da Caixa é, hoje, réu em uma ação penal.

Lula tem algo em comum com o caseiro. Em respeito ao seu passado de privações, o presidente deveria chamar a diretoria da Caixa para uma conversa.

Diria: “O pagamento da indenização não apaga a nódoa que o caso acomodou sobre minha gestão...”

“...Mas não admito empurrar para dentro de minha biografia o novo atentado contra um brasileiro retratado em sentença judicial como ‘humilde trabalhador’.”

Outra alternativa é mandar retirar da marquetagem o bordão enganoso. O "vem pra Caixa você também" deixa de ser convite. Vira emboscada.