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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Dilma insinua que Aécio está por trás das ‘violações’

Lula Marques/Folha

Depois de tirar o sábado para pajear a filha Paula, que está na bica de dar à luz Gabriel, seu primeiro neto, Dilma Rousseff reapareceu neste domingo (5). Deu as caras em Brasília. Gravou novas peças para a propaganda de TV. Depois, submeteu-se a uma entrevista.

Além dos repórteres, usualmente incômodos, Dilma foi importunada por uma mosca. Um inseto convencional –desses que farejam odores—, não do tipo azul, que pica os políticos, inoculando neles a obsessão pelo poder.

Dilma foi inquirida sobre um tema que, na conjuntura dos últimos dias, tornou-se incotornável: a violação do sigilo fiscal dos tucanos. Repisou: o crime do fisco não lhe diz respeito. Não estava na disputa em 2009, quando o malfeito foi praticado.

"Eu não era candidata, não era pré-candidata, não tinha candidatura nem pré-candidatura", disse. Com essa frase, Dilma sujeitou-se aos perigos da meia verdade. Realçou justamente o pedaço inverídico.

De fato, não era candidata oficial em 2009. Mas Lula a expusera na vitrine da sucessão havia quase dois anos. Lero vai, lero vem Dilma borrifou no ar a logomarca de um jornal –O Estado de Minas— e o nome de um jornalista –Amaury Ribeiro Jr..

Amaury era funcionário do diário mineiro. Nessa condição, realizara uma apuração que envolvia José Serra e seus arredores. Foram à alça de mira personagens que, sabe-se agora, tiveram os sigilos fiscais violados no ano passado.

Entre eles: a filha de Serra, Verônica; o dirigente tucano Eduardo Jorge; o ex-ministro de FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros; o ex-diretor Internacional do BB e ex-coletor de arcas de campanhas de Serra, Ricardo Sérgio; e o marido de uma prima de Serra, Gregório Preciado.

Pois bem. Na entrevista deste domingo, Dilma instou os repórteres a questionarem o jornal de Minas sobre as razões que levaram Amaury aos calcanhares dos tucanos. Abra-se aqui, por oportuno, um parêntese. Dilma absteve-se de recitar em público um nome que ela e toda a cúpula do PT repetem em privado: Aécio Neves.

Nos subterrâneos do petismo, difunde-se a versão de que Serra é alvo de “fogo amigo”. Coisa urdida por Aécio Neves, não pelos operadores do PT. O time de Dilma acomoda a gênese da encrenca sobre o pano de fundo da disputa que Aécio travara, no ano passado, com Serra.

Os dois mediam forças pela vaga de presidenciável do PSDB. Na versão do PT, interessava a Aécio, não a Dilma, desgastar Serra. Supostamente vinculado a Aécio, O Estado de Minas teria pautado Amaury sob inspiração do então governador tucano de Minas. Fecha parêntese.

Ouça-se agora a Dilma deste domingo: "Uma coisa me intriga. Nesse período [2009], ele [Amaury] trabalhou no Estado de Minas. Nunca vi ninguém perguntar ao Estado de Minas. Gostaria que algum de vocês fizesse essa pergunta".

A Folha já havia perguntado. Em notícia veiculada no mês de junho, informara: segundo a direção do Estado de Minas, Amaury trabalhava em vários casos. "Essa investigação específica [sobre o tucanato] não estava concluída quando ele pediu demissão no final de 2009", dissera a direção de redação do jornal.

A partir daí, já na condição de ex-funcionário do jornal e munido do resultado de suas apurações, Amaury achegou-se ao comitê de Dilma. Em abril de 2010, participou de uma reunião em que se discutiu a montagem de uma operação para espionar Serra.

Levado às manchetes, o encontro resultou na dissolução de um grupo de “inteligência” da campanha petista. Neste final de semana, os repórteres Daniel Pereira e Otávio Cabral veicularam em 'Veja' notícia que envolve, de novo, Amaury.

Informa-se que, antes de ser dissolvido, o grupo de “inteligência” do comitê petista manuseara um papelório intitulado “Operação Caribe”. Coisa de 40 páginas. Continham, segundo a revista, dados fiscais de Verônica Serra e dos tucanos que tiveram os sigilos violados na Receita –em Mauá e Santo André.

Ouvido, Amaury disse que fora convidado a integrar a “inteligência” da campanha de Dilma. Algo que, por falta de acerto financeiro, não chegou a se concretizar. Admitiu ser o autor do texto chamado de “Operação Caribe”. Resultado de “apuração jornalística”, feita à época em que atuava no jornal mineiro.

Amaury sustenta que, hospedado em Brasília (segundo a Veja em quarto alugado pelo comitê de Dilma), teve seu computador violado. Ladrões ligados ao PT teriam acessado a máquina, copiado o conteúdo e convertido seu trabalho “jornalístico” em dossiê. Curiosamente, não deu parte à polícia.

Na entrevista deste domingo, Dilma repetiu que sua campanha não fez dossiê. E deixou boiando no ar insinuação que direcionara no rumo de Aécio Neves.

O diabo é que, por ora, só apareceram digitais petistas no episódio das violações do fisco. O falso procurador de Verônica Serra, filiado em Mauá. O bisbilhoteiro de Formiga, com carteirinha do diretório de Arcos...

Na noite deste domingo, o signatário do blog tentou fazer contato com a assessoria de Aécio Neves. Não obteve sucesso
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