Pesquisar este blog

Total de visualizações de página

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Serra insinua que Dilma é o ‘produto de uma fraude’

  Marcello Casal/ABrA violação do sigilo fiscal da filha Verônica parece ter devolvido a José Serra o viço oposicionista que a marquetagem da campanha apagara.

Na noite passada, em encontro com prefeitos de 353 cidades de São Paulo, Serra levou ao microfone o mais duro discurso de sua campanha.

Soou como se desejasse relançar-se na disputa a 30 dias da eleição. Insinuou que falta “caráter” ao petismo e a Dilma Rousseff.

Ao fixar diferenças entre sua biografia e a da antagonista, disse: “Não somos produtos de uma fraude”.

Além de alvejar Dilma, Serra mirou no PT, no governo e –surpresa (!), espanto (!!)—até em Lula Lula.

Sem mencionar-lhe o nome, disse que o presidente converteu o Brasil “num porta-voz planetário de todo tipo de ditador, de facínora”.

Como que decidido a imprimir novo rumo à campanha, Serra animou-se até a elogiar –estupefação (!!!)— a gestão FHC.

Não chegou ao ponto de chamar o amigo pelo nome, mas não deixou dúvidas de que falava dele. Declarou, por exemplo:

O PT é “um partido que tenta destruir os que o antecederam no governo, enquanto governa sobre as bases construídas com muito esforço e suor por quem veio antes”.

Vão abaixo os principais trechos do pronunciamento de Serra:

- O caso da Receita: “As notícias estão aí, o segredo fiscal de pessoas que o governo identifica como adversárias foi quebrado por gente na Receita evidentemente a serviço de uma operação político-partidária”.

- O efeito Palocci: “Quando se viola o sigilo bancário de um caseiro, viola-se a Constituição. [...] Não perguntem jamais quem é Francenildo. Francenildo são vocês. Francenildo somos nós. [...] Exijo é que se respeitem os Francenildos e as Marias, os Josés e as Anas”.

- A omissão: “O mais impressionante é que ninguém do governo, do partido do governo, ou da campanha da candidata do governo deu-se ao trabalho de fingir que acha grave, de simular indignação, de vir a público para dar alguma satisfação à sociedade. Dão de ombros, emitem notas protocolares, ameaçam até processar as vítimas. Indignação? Nem pensar!”

- A tirania: “[...] Quando os tiranos, ou candidatos a tiranos, desejam subjugar uma sociedade aos seus propósitos, começam restringindo a liberdade. Minando a liberdade dos outros”.

- O controle da mídia: “Dia sim outro também, alguém deste governo fala em controlar a imprensa. O partido do governo sonha com o dia em que vai poder censurar a imprensa. A expressão, bonita, é ‘controle social’, como se a palavra ‘social’ pudesse legitimar o conteúdo horroroso. [...] Querem estabelecer comitês partidários para decidir o que os jornais e as revistas poderão ou não publicar, as rádios, tevês e a internet poderão ou não veicular”.

- A propaganda: “Você vê o horário eleitoral deles, você vê a propaganda do governo, paga com o dinheiro do povo, e parece que todos os problemas do Brasil foram resolvidos. Obras que não existem, que andam mais devagar que tartaruga, são divulgadas dia e noite como se já estivessem prontas”.

- A analogia nazista: “Eles seguem a receita repugnante, repudiada pela história, de que a mentira repetida mil vezes se transforma em verdade [Joseph Goebbels]. Só que eles não sabem que a receita está errada. O povo não é bobo”

- A falta dee caráter: “Claro que há avanços, pois este governo teve a felicidade de colher o que os outros plantaram. Talvez estejamos assistindo à mais escancarada exibição de falta de caráter de que se tem notícia na história. A ingratidão é um defeito de caráter, a ingratidão é a cicatriz que revela uma alma complicada”.

- O legado de FHC: “O que é o PT? Um partido que tenta destruir os que o antecederam no governo, enquanto governa sobre as bases construídas com muito esforço e suor por quem veio antes. Governa e estraga essas bases”.

- A crítica a Lula: “Vocês não imaginam a tristeza que eu sinto quando vejo o governo do meu país transformado num porta-voz planetário de todo tipo de ditador, de facínora, de genocida ou candidato a genocida. Transformaram o Brasil num avalista dos negadores de que tenha existido um Holocausto contra os judeus na Segunda Guerra Mundial [Mohmoud Ahmadinejad].

- As diferenças em relação a Dilma: “[...] Nós não nos escondemos, não somos bonecos de ventríloquo, não precisamos andar na garupa de ninguém. Nós, acima de tudo, não somos produto de uma fraude. Não tenho nada a esconder do meu passado; não preciso que reescrevam a minha vida excluindo passagens nada abonadoras; não preciso que tentem me vender, como se eu fosse um sabonete; não preciso de marqueteiro que mude a minha cara, o meu pensamento, a minha trajetória de vida. Ninguém precisa dizer à população quem sou eu. Inventar coisas que não fiz e esconder coisas que fiz. É a minha vida pública que diz quem sou. [...] Não fui inventado por ninguém!”

Depois de se reapresentar como oposicionista, Serra agradeceu aos presentes. E despediu-se recitando um pedaço do hino nacional. Começou no “Verás que um filho teu não foge à luta” e foi até a “pátria amada, Brasil”.

Resta agora saber se a conversão eleitoral será levada à propaganda de TV ou se o oposicionismo, por episódico, ficará restrito a eventos fortuitos.