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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Em 2009, Dilma dizia que não haveria mais ‘apagão’

Wilson Dias/ABr
Pressionando aqui, você chega a um pedaço do áudio de entrevista concedida por Dilma Rousseff em 29 de outubro de 2009.
Nessa época, Dilma ainda era chefe da Casa Civil de Lula. Falava ao programa ‘Bom Dia Ministro’, da estatal EBC (Empresa Brasileira de Comunicação).
Perguntou-se a ela se os investimentos do governo em energia davam a “completa certeza” de que não haveria novo apagão no país.
E ela: “Pode, sim, significar essa certaza. Primeiro, porque nós estamos, sistematicamente, fazendo como se faz na bicicleta...”
“...A gente não pode parar de construir usinas hidrelétricas, usinas térmicas, usinas eólicas”.
Citou a construção de duas usinas: Santo Antônio e Girau. Juntas, disse ela, produziriam “mais de 6 mil megawatts” de energia.
Prosseguiu: “Nós também temos uma outra certeza de que não vai ter apagão. É que nós, hoje, voltamos a fazer planejamento”.
Escassos 12 dias depois dessa entrevista de Dilma, o Brasil arrostou o mais disseminado apagão de sua história.
Foram desligados da tomada 18 Estados. Ficaram no escuro cerca de 70 milhões de brasileiros.
Devolvida à boca da cena, Dilma, que jactava-se de ter reestruturado o sistema elétrico brasileiro quando fora ministra de Minas e Energia, perdeu a calma.
Em nova entrevista, uma repórter inquiriu a então ministra sobre a declaração em que ela havia assegurado que o país estava livre do risco de apagão.
Dilma discorria sobre a apuração das causas do novo apagão. Servia-se de dados divulgados à época pelo colega Edison Lobão.
Lobão atribuíra o breu de 2009 a raios e trovões. Dilma aconselhava os repórteres a aguardarem pelo término da apuração.
E quanto à sua declaração de que não haveria apagão?, perguntou a repórter. “Não teve”, redargüiu Dilma, elevando o tom de voz.
“Você está confundindo duas coisas, minha filha. Uma coisa é blecaute. Trabalhamos com um sistema de transmissão de milhares de quilômetros de rede...”
“...E interrupções desse sistema ninguém promete que não vai ter”. Dilma evocou, então, o racionamento de energia da Era FHC:
“...O que nós prometemos é que não terá nesse país mais racionamento. Racionamento é barbeiragem...
“...É barbeiragem porque racionamento implica que, com cinco anos de antecedência, não soube a quantidade de energia que tinha de entrar para abastecer o país”.
Apertando aqui, você chega ao vídeo que lhe permitirá recordar o abespinhamento dessa Dilma pós-apagão de 2009.
Pois bem. Na madrugada desta sexta (4), Dilma foi submetida ao primeiro apagão de sua presidência (ou blecaute, como ela prefere).
Dessa vez, o breu atingiu sete Estados do Nordeste –algo como 90% da região. O suprimento de energia foi interrompido por até quatro horas.
Dilma reagiu com um par de providências. Repassou-as aos repórteres por meio do porta-voz. Mandou reforçar a fiscalização e a manutenção do sistema.
Considerando-se o “planejamento” que a Dilma-2009 dizia ter sido retomado, as medidas da Dilma-2011 sugerem a reiteração da “barbeiragem”.
Em notícia veiculada neste sábado (5), a Folha revela: a quantidade de apagões graves como o que acaba de atingir o Nordeste cresceu 90% entre 2008 e 2009.
O dado é oficial. Proveu-o o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Atribui-se o problema a duas causas: adversidades climáticas e falta de investimentos.
Apenas no ano passado, registraram-se no país 91 desligamentos superiores a 100 MW. Equivale ao consumo médio de uma cidade com 400 mil habitantes.
Em 2009, houve 77 desligamentos do mesmo tipo. Em 2008, ocorreram 48 quedas do sistema.
Nesse ritmo, a Dilma presidente terá de ecoar muitas vezes a Dilma ministra:
“Nós trabalhamos com um sistema de transmissão de milhares de quilômetros de rede. E interrupções desse sistema ninguém promete que não vai ter”.
O que diferencia a nova Dilma da anterior é a condição funcional. Presidente, responde pela continuidade de uma gestão a que serviu ora como titular das Minas e Energia ora como supergerente de tudo.
Falar de falta de planejamento agora é o mesmo que alvejar Lula e o próprio pé. A Era FHC é um ponto longínquo no retrovisor. 
Fonte: blog do Josias