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sábado, 5 de fevereiro de 2011

FHC sobre Dilma: ‘Está na hora de a oposição berrar’

Fotos: Folha, UOL e Divulgação
Há na política o costume de conceder a novos governantes uma trégua nos cem primeiros dias de gestão. Tempo para que a novidade diga a que veio. Fernando Henrique Cardoso não parece disposto, porém, a conceder o armistício de praxe à presidente Dilma Rousseff.
Neste domingo (6), decorridos apenas 37 dias do início da gestão Dilma, o presidente de honra do PSDB insufla a oposição a se opor imediatamente. Como faz todo primeiro final de semana do mês, FHC manifestou-se por meio de artigo. A peça é veiculada em vários jornais do país.
Sabendo-se general de uma tropa dividida ao meio –um pedaço com José Serra, outro com Aécio Neves—, FHC anota: “Ou a oposição fala e fala forte, sem se perder em questiúnculas internas, ou tudo continuará na toada de tomar a propaganda por realização”.
Ele enxerga em Dilma “um estilo diferente” do de Lula. “Mais discreta, com menos loquacidade retórica”, realça. A despeito das “nuances”, decreta: “O governo é um só Lula-Dilma, governo do PT ao qual se subordinam ávidos aliados”.
A certa altura, FHC escreve que, sob Lula, o governo “sonegava à população o debate sobre seu futuro”. O itinerário era traçado, segundo ele, “em surdina”. O caminho “era definido nos gabinetes governamentais e nas grandes empresas”.
Depois, anota FHC, “se servia ao país o prato feito na marcha batida dos projetos-impacto tipo trem-bala, PACs diversos, usinas hidrelétricas de custo indefinido e serventia pouco demonstrada”. Compara Lula aos militares da ditadura.
Escreve que tudo sucedida “como nos governos autoritários do passado”. Em seguida, acomoda no texto uma frase com cara de brado: “Está na hora de a oposição berrar e pedir a democratização das decisões, submetendo-as ao debate público”.
Há um quê de vendeta no artigo de FHC. Acusado pelo petismo de deixar para Lula uma “herança maldita”, degusta as agruras fiscais legadas a Dilma. Observa: “Mais afeita aos números” do que Lula, Dilma “parece ter percebido, mesmo sem proclamar, que recebeu uma herança braba de seu patrono e de si mesma”.
“A situação fiscal se agravou”, anota. Cita evidências de que a ficha de Dilma já caiu. Por exemplo: o “reconhecimento maldisfarçado da necessidade de um ajuste fiscal”. Ou o “alerta quanto ao cheiro de fumaça na compra a toque de caixa dos jatos franceses”. Uma operação que Dilma levou ao freezer.
O ex-presidente sapateia sobre o baronato sindical, que, depois de levar às ruas a faixa “Fora FHC”, adocicou o verbo nos oito anos que se seguiram: “Os pelegos aliados do governo que enfiem a viola no saco, pois os déficits deverão falar mais alto do que as benesses que solidarizaram as centrais sindicais com o governo Lula”.
No miolo do artigo, FHC esboça uma espécie de roteiro para a oposição. “Há muito a fazer para corresponder à fase de muda” representada por Dilma. “A começar pela crítica à falta de estratégia para o país: que faremos para lidar com a China (reconhecendo seu papel e o muito de valioso que podemos aprender com ela)?”.
No futuro, acredita FHC, o Brasil terá de competir com países como China, Índia e EUA com produtos “de alta tecnologia”. Indaga: “Preparamo-nos para a era da inovação? Reorientamos nosso sistema escolar nesta direção? Como investir em novas e nas antigas áreas produtivas sem poupança interna?”
Sob Lula, diz o antecessor, os EUA foram definidos como “o outro lado”. Súbito, percebe-se que as diferenças entre americanos e chineses “são menores do que imaginávamos”. Nova pergunta: “Que faremos para evitar o isolamento e assegurar o interesse nacional sem guiar-nos por ideologias arcaicas?”
Segue empilhando interrogações: “Aproveitaremos de fato as vantagens do etanol, criaremos uma indústria alcoolquímica, usaremos a energia eólica mais intensamente?...”
“...Por que tanta pressa para capitalizar a Petrobras e endividar o Tesouro com o pré-sal em momento de agrura fiscal? As jazidas do pré-sal são importantes, mas deveríamos ter uma estratégia mais clara sobre como e quando aproveitá-las. O regime de partilha é mesmo mais vantajoso? Nada disso está definido com clareza”.
“Para a oposição atuar de modo efetivo”, apregoa FHC, “há que mexer no desagradável”. Injeta no roteiro o caso do Banco Panamericano. O governo alega que a ex-casa bancária de Silvio Santos foi salva da breca sem dinheiro público.
Para FHC, não é bem assim: “Não dá para calar diante da Caixa Econômica ter se associado a um banco já falido que agora é salvo sem transparência pelos mecanismos do Proer e assemelhados”.  
Sustenta que “o dinheiro do contribuinte escapou [também] pelos ralos, para subsidiar grandes empresas nacionais e estrangeiras, via BNDES”. Pergunta: “Não será tempo de esquadrinhar a fundo a compra dos aviões? E o montante da dívida interna, que ultrapassa um trilhão e seiscentos bilhões de reais, não empana o feito da redução da dívida externa?”
FHC leva ao paiol uma munição usada pelo petismo contra ele: “E dá para esquecer dos cartões corporativos usados pelo Alvorada, que foram tornados ‘de interesse da segurança nacional’ até o final do governo Lula para esconder o montante dos gastos? Não cobraremos agora a transparência?”
Embalado, fala do “ritmo lento das obras de infraestrutura, prejudicadas pelo preconceito ideológico contra a associação do público com o privado”, cobra “responsabilidades pelos atrasos nas obras viárias, de aeroportos e de usinas”.
Sugere que a cobrança oposicionista comece pelas obras preparatórias para a Copa, “libertas de licitação e mesmo assim dormindo em berço esplêndido”.
- Serviço: Aqui, a íntegra do artigo de FHC, antecipado na web pelo ‘Diário Catarinense”