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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

PT decide fazer mobilização por absolvição de Dirceu

Alan Marques/Folha
A meia-idade, como se sabe, é a fase da vida que vai até os 50 anos, mas que já começa a encher aos 30.
O PT, 31, encontra-se no limiar desse ciclo. Moço precoce, chegou ao poder muito cedo. Aos 25, com a cara já cheia de cronologia, viveu a crise etária dos 40.
Sob Lula, aceitou sem hesitações, em 2005, o convite para viver novas aventuras. Entregou-se às relações plurais.
Experimentou novas posições. Deu preferências às posições ideológicas mais exóticas. Sem limites à perversão, chegou ao mensalão.
Nesta quinta (10), na celebração do 31º aniversário, os principais líderes do PT, cabelos e barbas nevadas, levaram à cena a imagem do amadurecimento.
Já não exibem o fôlego de outrora. Mesmo auxiliado por Dilma, Lula não teve sopro sequer para apagar a velinha do bolo. José Eduardo Dutra teve de extinguir a chama com os dedos.
O PT dispõe, porém, do fôlego que interessa às legendas: o poder longevo. Aos oito anos de Lula, somou quatro de Dilma. E sonha com um ciclo de duas décadas.
Sem opositores, o petismo respira a atmosfera favorável com desassombro. Se um gato o desafiasse, o partido iria à briga dando seis vidas de vantagem ao rival.
Por uma dessas ironias que só destino sabe providenciar, a festa da maturidade ocorreu num 2011 em que o STF promete julgar o processo do mensalão.
Antecipando-se à sentença, esse PT destemido já se auto-absolveu. Reconduzido à presidência de honra do partido, Lula discursou para uma platéia eufórica.
Num pedaço de sua fala, o ex-soberano injetou o passado recente no presente festivo:
“A história haverá de mostrar que não houve campanha mais infame contra um partido do que a campanha feita contra o PT em 2005”.
Horas antes, reunidos a portas fechadas, lideranças do PT haviam decidido realizar uma mobilização nacional em favor da absolvição de José Dirceu.
O ex-chefão da Casa Civil de Lula frequenta os autos do Supremo na condição de protagonista. No dizer da Procuradoria, foi o “chefe da quadrilha”.
Assina a peça acusatória o ex-procurador-geral Antonio Fernando de Souza. Embora o tenha nomeado e reconduzido, Lula dá-lhe pouco crédito.
“Quando um companheiro nosso tiver problema, na dúvida, a gente tem que ficar com o companheiro da gente”, disse ele sobre Dirceu e Cia..
O próprio Dirceu participou da reunião em que ficou acertada a mobilização do partido em seu favor. Disse que não há no processo uma mísera prova contra ele.
Antes, em conversa com os repórteres, Dirceu dissera que deseja ser julgado e que não o agrada a idéia de livrar-se da encrenca pela via da prescrição.
Afora a menção ao passado mensaleiro, Lula dedicou-se no discurso ao presente e ao futuro. No primeiro caso, cuidou de grudar-se em Dilma.
Atacou os jornalistas que tentam intrigá-lo com a pupila, realçando as diferenças do governo dela em relação à gestão dele.
Disse esperar de Dilma justamente a novidade. Se fosse para “fazer o mesmo, eu teria pleiteado um terceiro mandato”.
Afirmou que aplaude sempre que falam bem de sua criatura.
Insinuou que perdem tempo os que almejam desconstrui-lo realçando as vantagens de Dilma. “Morrerei feliz”.
Lula declarou que mantém com Dilma laços “indissociáveis”. O “sucesso” da sucessora será também dele. O eventual “fracasso” idem.
Dilma não ouviu o discurso de seu patrono. Chegou atrasada. Recebeu da audiência o mesmo “olê, olá” utilizado na saudação a Lula.
Entre risos, o ex-soberano disse que, ao deixar a Presidência, sentiu-se como cachorro que cai da mudança, meio sem rumo.
Reconciliou-se, porém, com a bússola: "Aqui não tem aposentadoria da política. Se tiver uma boa causa, terá um bom soldado na rua para lutar".
Repisou a tecla segundo a qual vai “continuar andando esse país”. De resto, mirou em 2012, um degrau da escada que leva a 2014.
"É importante que a gente comece a discutir agora o que a gente vai querer para 2012”, afirmou.
Acha que não se deve lançar candidatos de última hora. “Sabemos que não dá certo. [...] Nós precisamos começar já a maturar as alianças que nós precisamos fazer".
Ou seja: vai recomeçar a dança do acasalamento partidário. Algo que deixou de ser um problema para o PT.
Na meia-idade, o partido reage com naturalidade aos contatos grupais. Mesmo quando praticado com parceiros que antes considerava detestáveis.
- Serviço: Aqui, o áudio do discurso de Lula, na íntegra.