Pesquisar este blog

Total de visualizações de página

sexta-feira, 4 de março de 2011

Dilma:‘Governo não se envolve com reforma política’

Marcelo Justo
Ao tomar posse, em 1ª de janeiro, Dilma Rousseff dedicou um parágrafo do discurso que pronunciou no Congresso à reforma da legislação eleitoral e partidária.
Disse ela: “Na política, é tarefa indeclinável e urgente uma reforma política com mudanças na legislação para fazer avançar nossa jovem democracia...”
“...Fortalecer o sentido programático dos partidos e aperfeiçoar as instituições, restaurando valores e dando mais transparência ao conjunto da atividade pública”.
Foi um dos trechos mais aplaudidos pelos congressistas que testemunharam a posse. Ficara entendido que o governo usaria sua força para desencavar a reforma.
Não é bem assim, contudo. Em jantar realizado no Palácio da Alvorada na noite de quarta-feira (2) Dilma soou diferente.
Disse que “o governo não vai se envolver diretamente no debate sobre a reforma política”.
Para ela, a resolução da encrenca é resposabilidade dos partidos e do Congresso, não do Executivo.
Essa Dilma diferente da presidente de dois meses atrás materializou-se diante de quatro expoentes do PCdoB.
Jantaram no Alvorada, a convite de Dilma, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo; o ministro Orlando Silva (Esportes)...
...E os líderes da legenda na Câmara e no Senado, Osmar Júnior (BA) e Inácio Arruda (CE), respectivamente.
Pelo lado do governo, além de Dilma, foram à mesa dois ministros petistas: Antonio Palocci (Casa Civil) e Luiz Sérgio (Relações Institucionais).
Dilma toma distância do abacaxi num instante em que começam a aflorar no Legislativo as divergências que conspurcaram outras tentativas de descascá-lo.
Sob Lula, o governo chegou a enviar uma proposta ao Congresso. Foi vendida pelo então ministro da Justiça, Tarso Genro, como uma reforma política “fatiada”.
Imaginou-se que, fatiando-se a polêmica, seria possível produzir concensos mínimos em torno de alguns pontos. Deu em nada.
Dilma teve, ali mesmo, na mesa do jantar, uma evidência do dissenso que permeia o debate.
Quando era saboreada a sobremesa, o petista Palocci declarou-se pessoalmente contrário a uma tese muito cara ao PT.
Palocci torce o nariz para o voto em lista, modelo em que o eleitor vota na legenda e elege candidatos previamente selecionados pelas cúpulas dos partidos.
Ou seja, falta às legendas até o consenso interno. Com o empenho do Planalto, a reforma política seria difícil. Sem a mobilização da tropa governista, aproxima-se do impossível.
Não se falou apenas de política. Durante o repasto, Dilma mastigou para os dirigentes do PCdoB a estratégia econômica de sua gestão.
Ela incomodara-se com as críticas que os "comunistas" vêm fazendo aos cortes orçamentários e à subida dos juros. Daí o convite para a janta.
Nesta quinta (3), depois de digerir as palavras de Dilma, Renato Rabelo, que defendia a mudança do modelo econômico, já soava mais ameno.
O presidente do PCdoB levou à página do partido na web uma entrevista na qual relata nacos do diálogo mantido na véspera com a presidente (ouça).
Dilma disse que persegue em 2011 um par de objetivos: 1) Quer manter a inflação sob controle; 2) Deseja entregar um crescimento econômico de 4,5% a 5%.
Classificou os cortes orçamentários de R$ 50 bilhões como mal necessário. Uma contribuição indispensável para refrear a demanda.
Disse que, mercê da sinalização emitida pelo governo, a inflação já está “decaindo”. Declarou também que é preciso relativizar os cortes.
Em verdade, disse ela, o governo passou na lâmina o que não existia. Ao votar o Orçamento de 2011, o Congresso havia superestimado as receitas.
Segundo o raciocínio de Dilma, parte do dinheiro alcançado pela faca não existia. Era mero registro contábil.
De resto, Dilma preocupou-se em informar que, a despeito do aperto fiscal, os investimentos de 2011 serão superiores aos de 2010.
Declarou-se decidida a assegurar dois tipos de investimento: em obras de infraestrutura e em programas sociais.
Citou o reajuste que acaba de conceder à clientela do Bolsa Família. No mais, disse que 2012 será melhor do que 2011.
Um auxiliar de Dilma contou ao blog que ela pretende amiudar os contatos com os partidos. No dia 23, reunirá o Conselho Político, integrado por líderes e presidentes das legendas.
Além disso, a presidente promoverá novos jantares no Alvorada.