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quinta-feira, 3 de março de 2011

Em encontro com líderes, Dilma ornamenta os cortes

Alan Marques/Folha
Mario Henrique Simonsen costumava dizer que, em teoria econômica, o que não é óbvio quase sempre é besteira.
Para Dilma Rousseff, os ministros Guido Mantega e Miriam Belchior como que exageraram no óbvio ao esmiuçar o corte orçamentário de R$ 50 bilhões.
Em reunião com líderes partidário que a apoiam, Dilma cuidou de ornamentar as explicações dos ministros com algumas besteiras.
Por exemplo: Mantega e Belchior haviam informado que a lâmina desceu sobre 40% do Minha Casa Minha Vida, um programa do PAC.
Dilma disse aos líderes que, em verdade, não houve corte (?!?!?!). O que aconteceu, segundo ela, foi um ajuste de cronograma.
Após a reunião, o líder do PR, deputado Lincoln Portela, tentou traduzir a versão da presidente aos repórteres:
"Ela disse que há 250 mil moradias sendo construídas e 750 mil já foram contratadas. Então, não adianta deixar o dinheiro guardado".
Dito de outro modo: a faca ceifou 250 mil tetos populares. Mas a culpa é do calendário, que é pequeno demais para acomodar tanta demanda.
Há três dias, Mantega dissera aos repórteres que os cortes não visam combater a inflação.
Expressando-se no mesmo idioma, Dilma falou uma língua diferente. Afirmou aos líderes que o objetivo é, sim, conter o surto inflacionário.
foram à lâmina R$ 18 bilhões em emendas que os congressistas haviam pendurado no Orçamento.
No Congresso, tomados de valentia inaudita, os deputados espinafram o governo entre quatro paredes.
Diante da dona da faca, os líderes se deram conta de que a coragem é uma virtude que foge na hora em que é mais necessária.
Não se ouviu no gabinete presidencial um mísero pio sobre emendas.
Como previsto, Giovanni Queiroz, o líder do PDT, não foi convidado para o encontro. O ministro Luiz Sérgio, coordenador político do Planalto, explicou:
"Foi uma reunião em que a presidenta convidou os líderes que estão 100% afinados com o governo".
Como se sabe, um pedaço do PDT (nove deputados, incluindo o líder) votou contra o salário mínimo de R$ 545.
"Não foi uma retaliação (?!?!?!)" disse Luiz Sérgio. "O PDT continua com o governo".
Giovanni, o vetado, tampouco enxergou problema. Ao contrário. Viu na ausência de convite uma homenagem ao “bom senso”.
Como assim? Acha que não faria nexo convidá-lo para um encontro em que foi celebrada a unidade do consórcio governista.
Como seu PDT foi à votação do mínimo dividido, o líder jura que, convidado, não daria as caras. Nem por isso considera-se fora do governo.
Em resumo: após a reunião Planalto, ficou tudo muito claro. Claro como a gema.