Deu-se na noite desta quarta (2), num auditório de São Paulo, a estreia de Lula como palestrante.
Contratado pela LG, multinacional coreana de equipamentos eletrônicos, o ex-soberano falou por 40 minutos.
Remunerado em R$ 200 mil, cifra que a empresa teve a gentileza de não confirmar, Lula usou o tempo para vangloriar-se de Lula.
A repórter Carmen Munari conta que os jornalistas só puderam testemunhar o pedaço inicial da palestra. Exigência de Lula, disseram os organizadores.
Na plateia, havia cerca de mil pessoas, entre funcionários e revendedores da marca LG –Pão de Açúcar e Casas Bahia, por exemplo.
Afeito ao improviso, Lula ateve-se, na maior parte do tempo, a um discurso escrito. Empilhou números e dados favoráveis aos seus dois reinados.
Disse que consolidou-se no Brasil um mercado interno. “O que permitiu um resultado recorde do PIB em 2010, com expansão prevista de 7%”.
O número oficial deve ser anunciado pelo governo nesta quinta (3). Lula cuidou de celebrá-lo de véspera:
“Um resultado extraordinário, porque foi acompanhado pela redução das desigualdades sociais e regionais, com distribuição de renda".
Jactou-se também dos dados trabalhistas. Disse que, ao assumir, em 2003, a taxa de desemprego era de 12,4%. Ao sair, em 2010, estava reduzida a 6,7%.
Vangloriou-se dos 15 milhões de empregos com carteira assinada criados no seu governo. Algo que tonificou as vendas, fez questão de realçar.
Citando a logomarca de seu contratante, Lula disse: "Tudo isso ajudou a alavancar o comércio e permitiu que a LG vendesse mais televisores de tela plana...”
“...Mais computadores, telefones celulares e aparelhos de ar condicionado".
Embora noviço no ramo das palestras, Lula pareceu adaptado ao novo papel. Dirigia-se à audiência como a "família LG".
Iluminou o efeito mercadológico do programa Luz Para Todos. Ao levar energia às tomadas de casas que estavam às escuras, impulsionou as vendas.
A comercialização de eletrodomésticos deu um salto junto à clientela do programa governamental de eletrificação de residências, declarou Lula.
Segundo ele, 79,3% dos beneficiários compraram televisores. Outros 73% adquiriram geladeiras. E 46% levaram equipamentos de som para casa.
Noutro trecho, Lula discorreu sobre a crise financeira que sacudiu o mundo entre 2008 e 2009.
Recordou que foi aos refletores para encarecer aos brasileiros que consumissem, mantendo o giro da roda da economia.
"Eu que passei a vida inteira sendo contra a sociedade de consumo, fiz a apologia do consumo". Daí, segundo ele, a confirmação da ”marolinha”.
No mês passado, ao reassumir a presidência de honra do PT, Lula dissera que, ao deixar a Presidência, sentiu-se como cachorro que cai do caminhão de mudança.
“Eu não sabia que rumo tomar”, discursou, entre risos. Decorridos dois meses de sua despedida, descobriu um rumo rentável.
Dividindo-se os R$ 200 mil que recebeu pelos 40 minutos que falou, conclui-se que Lula foi remunerado em R$ 5 mil por minuto para autoelogiar-se. Algo que, antes, fazia de graça.
O ex-soberano foi ao mercado das palestras valendo entre dois e quatro FHCs. As palestras do antecessor são cotadas no mercado em valores que oscilam de R$ 50 mil a R$ 100 mil.
