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terça-feira, 15 de março de 2011

Crise nuclear. Acidente no Japão é o "apocalipse", classifica UE


Os engenheiros continuam a tentar arrefecer reactores na central nuclear. Radioactividade já chegou a Tóquio
Começou a corrida à água engarrafada, mantimentos e máscaras de protecção no Japão. Ontem, depois de uma terceira explosão na central nuclear de Fukushima Daiichi, a norte de Tóquio - na sequência do sismo de 8,9 na escala de Richter e consequente tsunami, que varreu a costa noroeste do país -, os níveis de radiação libertada para a atmosfera subiram e a radioactividade anormal começou a chegar a outras cidades japonesas, incluindo a capital. O governo veio pedir a todos os habitantes num raio de 30 quilómetros de distância (cerca de 140 mil pessoas) que não saiam de casa, desliguem os sistemas de ventilação e fechem todas as janelas.
Horas depois, outros alertas começaram a surgir. A instabilidade na central - que, neste momento, está a ser gerida por apenas 50 funcionários, depois de outros 800 engenheiros terem sido transferidos - elevou as preocupações internacionais quanto a uma possível catástrofe nuclear. "Estamos a falar de um apocalipse e eu acho que esta palavra é particularmente bem escolhida", disse Günther Oettinger, comissário europeu para a Energia, numa reunião do Parlamento Europeu em Bruxelas.

"Na prática, tudo está fora do controlo. Não excluo o pior nas próximas horas, nem nos próximos dias." A Autoridade de Segurança Nuclear (ASN) francesa já alertara para a gravidade da situação provocada pelo sismo e consequente tsunami de 11 de Março, classificando as explosões em Fukushima no nível 5 numa escala de 1 a 7 na classificação de acidentes nucleares. Ontem os especialistas aumentaram o nível para 6 - com a Rússia a contribuir para o alarme generalizado. "Infelizmente, os seis reactores [da central] correm o risco [de derreter]", disse Sergei Kiriyenko, responsável nuclear do governo de Dmitri Medvedev.

Na província de Ibaraki, perto de Fukushima, a radiação registada ontem rondava os 5 microsievert (msv) por hora, 100 vezes superior ao normal. Segundo a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), uma pessoa é exposta normalmente a uma radiação da natureza de aproximadamente 2,4 msv por ano. O director-geral da agência, Yukiya Amano, sublinhou a possibilidade de "ter havido danos no núcleo do reactor 2" no rescaldo do sismo. Até ontem ao final do dia, os sistemas de refrigeração de três dos seis reactores da central estavam danificados e os primeiros três dos seis reactores tinham registado explosões de hidrogénio.
Em Tóquio também se registou uma subida dos níveis de radioactividade: a cerca de 270 quilómetros da central de Fukushima, no coração da capital nipónica, os níveis subiram 20 vezes acima do habitual e foram detectadas pequenas quantidades de substâncias radioactivas perigosas, como césio. O governo regional veio garantir que os níveis ainda não envolvem riscos para a saúde pública.

Os engenheiros continuam a tentar arrefecer reactores na central nuclear. Radioactividade já chegou a Tóquio
Naoto Kan, primeiro-ministro do país, veio pedir calma perante a crise, admitindo, contudo, que "o risco de mais fugas radioactivas está a aumentar". O ministro dos Negócios Estrangeiros, Takeaki Matsumoto, acrescentou outro alerta às palavras do chefe de governo. "A radioactividade [do reactor 4] pode ser prejudicial à saúde das pessoas", revelou em conferência de imprensa. Horas depois, ao fim do dia, começaram a chover as críticas.

Depois de o jornal mais importante do país, o "Yomiuri Shimbun", ter dedicado o editorial de ontem a criticar a lentidão e "a forma de dar informações do governo", um especialista em energia nuclear juntou a sua voz à do diário. Iouli Andreev - especialista em segurança nuclear e um dos homens que participaram nas limpezas de Chernobyl depois do desastre de 1986 - disse à Reuters que a ganância da indústria e a influência empresarial sobre a AIEA terão contribuído para o desastre japonês: "Depois de Chernobyl, toda a força da indústria nuclear foi direccionada para esconder o acontecimento, para não manchar a sua reputação."